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caixa dos segredos

Bocados de mim embrulhados em palavras encharcadas de emoções. Um demónio à solta, num turbilhão de sensações. Uma menina traída pelas boas intenções.

29
Jul15

Um Deus passeando pela brisa da tarde, de Mário de Carvalho


vanita

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Se acham que são prolíficos em termos de linguagem, desenganem-se. Mário de Carvalho engoliu um dicionário quando escreveu "Um Deus passeando pela brisa da tarde" e o melhor é desistirem de consultar os significados sempre que se cruzarem com palavras novas e desconhecidas. Das duas uma: ou lêem este romance histórico ou renovam o vocabulário linguístico. Em cada frase, se houver duas ou três palavras e/ou conceitos que dominam, dêem-se por satisfeitos. É isso mesmo: "Um Deus passeando pela brisa da tarde" é uma viagem à língua portuguesa, uma descoberta fascinante de um mundo imenso. Mas vamos por partes.

Ao contrário do que possa parecer pelo que acabo de dizer, este não é um livro difícil de ler. Nem por isso. O léxico pode ser invulgar e distintivo, mas a linguagem é muito acessível e não é complicado depreender a grande maioria dos significados dos termos menos conhecidos. Ou seja, ler este romance é um exercício maravilhoso de descoberta e apreensão de novos vocábulos e formas de comunicar. Só por si, já vale toda a recomendação possível. É apenas a ponta do iceberg.

Comecemos pelo princípio. "Um Deus passeando pela brisa da tarde" é um romance histórico, cuja acção decorre durante o Império Romano, algures na Lusitânia, na fictícia Tarcisis, no século II d.C.. O protagonista é Lúcio Valério, o magistrado da desta cidade, um homem justo e honrado que vive o drama de tentar corresponder aos desígnios de Roma numa altura em que os primeiros cristãos começam a ameaçar a unidade e equilíbrio de todo o Império. A história vale sobretudo pela riqueza de pormenores acerca da vida quotidiana e organização estrutural, política e social, de uma cidade romana. Os hábitos e os ideais, as posturas e os códigos de conduta morais e as clivagens sociais são parte essencial deste romance que, nessa qualidade, se revela um instrumento poderoso para a transmissão de uma realidade apenas visível em achados arqueológicos. Ler e aprender, pode haver melhor do que isto?

O único senão deste romance reside na profundidade das personagens. Acompanhamos toda a trama pelo ponto de vista de Lúcio Valério e temos total percepção da sua angústia, mas falta-nos um contraponto que permita ter acesso a outras visões da história, que não quero aqui revelar. Um pormenor que não mancha a apreciação global: este é um livro que merece atenção e reflexão. Leiam. 

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