Saldos todo o ano. Acalmem lá as passarinhas!
vanita
O Governo anunciou a vontade de alargar os períodos de saldos a todo o ano, passando os mesmos a ser autorizados sempre que apetece aos comerciantes.
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Já acalmaram?
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Ok, já posso voltar a falar? Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, esta não é uma medida tão espetacular assim, lamento desiludir-vos. Na verdade, existem razões económicas e, até sociais, bastante sérias e justificáveis para que o período de saldos esteja limitado em tempos específicos e pré-definios. Além de ser uma medida reguladora do mercado económico, trata-se de um dispositivo fundamental para o combate à concorrência desleal. Hein? Pois, é mesmo isso.
Vamos lá por partes:
- Afinal o que são os saldos? Os saldos são a venda de produtos abaixo do preço de custo, com prejuízo para o comerciante. É o único período legal em que esta medida pode ser adoptada.
- Ou seja, ao assumir a venda de produtos a preço de saldo, o comerciante está a perder dinheiro. Até aqui, concordamos todos, correcto?
- Pois, não é bem assim. Para as grandes superfícieis e os grandes comerciantes, este prejuízo pode ser assumido dada a larga quantidade de investimento que fazem noutros produtos. O negócio não fica em risco com a venda de três ou quatro produtos abaixo de custo, já que o consumo feito nunca se resume exclusivamente a estes produtos.
- O mesmo não se pode dizer em relação aos pequenos comerciantes. Se venderem produtos com prejuízo... preciso de continuar a explicar?
- É exactamente para regulamentar o mercado e conseguir algum equilibrio, evitando concorrência desleal, que os períodos de saldos estão estipulados por lei. Caso contrário, assiste-se ao estrangulamento do pequeno comércio.
A coisa não morre por aqui. Ok, acabamos com o pequeno comércio e ficamos apenas (ainda mais dependentes) dos grandes grupos económicos e dos cartões de desconto e todas essas tretas que as sonaes desta vida inventam. Mas vamos lá pensar mais um bocadinho. Se vendermos o produto final com prejuízo, não estamos a pagar o trabalho e a matéria-prima que lhe dão origem. Trabalhadores e fornecedores deixam de ter meios para subsistir e continuar a manter a economia estável, porque os serviços não são pagos. Sem dinheiro não há investimento e yada, yada, yada.
E nem sequer me apetece falar sobre essa outra proposta de deixar de regular os horários de funcionamento. Porque isto de trabalho escravo mexe-me com as entranhas.
Vou deprimir. Bom almoço para vocês.