Budapeste, de Chico Buarque
vanita
Como é que se lê um romance de Chico Buarque sem o peso do nome do autor? Mesmo na cidade fria de Budapeste, sente-se o gingar melodioso do português falado em tom brasileiro e da musicalidade que nos remete para o famoso cantor. Talvez por isso, a personagem principal deste romance seja um escritor fantasma - um "ghost writer" - que nunca colhe os frutos do sucesso que alcança, levando-nos a nós, leitores, a questionar o êxito do livro que carregamos em mãos, caso nos fosse apresentando sem Chico Buarque, esse que ouvimos nas letras que nos fazem virar páginas atrás de páginas. Budapeste é um livro cantado, embalado na poesia das palavras. É um livro simples e atordoado, uma crise existencial encarada com a alegria típica do povo brasileiro, sem deixar de ser dramático. Budapeste exige música. De Chico Buarque.
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O Meu Amor, de Chico Buarque