Seis meses de pandemia
vanita
Há seis meses o país fechava como até então não havia memória. De um dia para o outro, trancámos as portas de casa e, durante meses, aprendemos a viver uma realidade onde o medo impera. Há seis meses, houve quem não tivesse ficado em casa: médicos, enfermeiros, cuidadores e muitos trabalhadores de profissões essenciais para o bem-estar comum. Entre esses encontram-se os funcionários dos lares de idosos e do apoio domiciliário. Com um vírus que afecta sobretudo a terceira idade, o trabalho destes profissionais assume especial importância e um grau de complexidade que, quem não lida com isso no dia-a-dia, não consegue abarcar. Há seis meses, estas pessoas saíram para a rua em cidades e aldeias fantasma, povoadas apenas pela doença invisível que ninguém podia adivinhar onde se escondia. Levavam cuidados de higiene, banhos e comida a quem não tinha mais quem lhes valesse. Levavam amor e carinho embrulhado em medo pelo desconhecido e pelos que deixavam em casa, à mercê do que podiam trazer no regresso. Não baixaram os braços e continuam, até hoje, a garantir, como sempre, que os mais velhos têm dignidade a cada dia que passa. São funcionários que têm a coragem de entrar onde outros se recusam a ir, que ganham salários miseráveis e que não estavam incluídos em tantas palmas se bateram. São funcionários de quem não se fala porque ninguém sequer tem noção do seu trabalho ou existência. São pessoas responsáveis, sérias e que merecem o reconhecimento do esforço sobre-humano que têm feito nestes seis meses de pandemia e assim vão continuar pelo tempo que for preciso. A minha mãe é uma dessas pessoas. Que nos próximos seis meses haja mais condições e respeito para com estes e todos os profissionais que, mesmo exaustos, nunca baixam os braços. Devemos-lhes isso.