04
Ago14
O livro choque do ano
vanita
Contra tudo e contra todos, li "A Culpa é das Estrelas", de John Green. Sou avessa às convenções e, sempre que possível, vou contra o que está instituído. Sim, eu, que arranquei o ano a ler os quatro volumes de "Guerra e Paz" e que terminei há pouco mais de uma semana "O Jogo do Mundo - Rayuela", escolhi o livro mais meditático e comercial do momento para lhes seguir. E, congelem se quiserem, não desgostei. São estilos e géneros incomparáveis, têm propósitos completamente distintos, mas são livros e, cada um com a sua função muito própria, preenchem requisitos e necessidades que não chocam, por estanho que possa parecer. Ler "A Culpa é das Estrelas" faz-se de um só fôlego, rouba-nos gargalhadas inesperadas e, oh cliché!,também nos surpreende com falta de ar e olhos rasos de lágrimas. É uma história cruel, de crianças a quem é resgatado o prazer de estar a começar uma vida porque o corpo delas decide crescer em forma de tumor maligno. É uma história de desesperança, contada com humor e na corda bamba de se tentar fugir ao sentimentalismo exacerbado que o tema exige. É também um livro bem escrito, que obriga a pensar e que chega a milhares de pessoas que, provavelmente, nunca tinham parado para imaginar aquele tipo de realidade. Ao mesmo tempo, é um livro que não arrepia quem passa por esse drama. Trata-se de um género literário bem distinto do que tenho vindo a escolher nos últimos tempos mas, pasmem, a complexidade do ser humano que todos somos permite-nos isso. E nem por isso nos traímos. O choque.