O futuro mesmo ali à esquina
vanita
"Não há imprensa". Bastou esta frase, usada amiúde no meu dia-a-dia, mas repetida por alguém superior a mim, frente a um jornalista da minha antiga vida, para se abrir a caixa de pandora. O referido jornalista sentiu-se ofendido, mais ainda com a minha concordância. "Não há imprensa?", perguntou-me, como quem pergunta a Judas como foi capaz de trair Jesus. Incrível como estar do lado de fora, desse lado onde nunca quis estar e para onde fui atirada quase à força de uma crise que tem as costas largas, incrível, dizia eu, como estando deste lado, do lado de fora, consigo ter o distanciamento para entender o problema sem me deixar envolver (tanto).Não, não há imprensa. Desengane-se quem ainda vive nessa ilusão. Imprensa é liberdade de expressão, é espaço para contar histórias que não se conhecem ou que alguém preferia que não se soubessem. Imprensa é tempo, investigação. É isenção. Não há imprensa e, infelizmente, não é de agora. É é mais evidente agora. Digam-me um jornal ou uma peça que seja reflexo de um trabalho jornalístico puro e duro, que não sirva interesses (sejam eles quais forem), que seja feita com tempo e dedicação, que traga algo de novo ao leitor e telespectador. Podemos continuar a tapar o sol com a peneira, mas isso não nos leva a lado algum. Para haver jornalismo também é preciso isso: encarar a verdade. Encontrar as respostas ou procurar soluções. Nunca desistir. Assumir que não há imprensa, por paradoxo que possa parecer, é um passo em frente. Há que ter coragem de o dar. Rumo ao futuro.