O 25 de abril não é isto
vanita
Uma grande percentagem dos portugueses não era ainda nascida, ou só usava cueiros, quando se deu o 25 de abril. Nem por isso a sua mensagem deixou de passar. Felizmente, a grande maioria da população defende os princípios da revolução sem hesitar. Somos todos abril. Nem todos descemos a Avenida da Liberdade anualmente, a maior parte nem vive em Lisboa. Não é isso que faz abril. E estaremos a mentir se dissermos que todos os anos assistimos com pompa e circunstância aos festejos oficiais da data. É feriado e há quem esteja de férias, quem tenha aproveitado a noite para se divertir, outros que ainda nem se levantaram ou já estão a trabalhar desde cedo. Nem por isso se deixa de viver abril. Não é preciso comemorar a data para assinalar a sua existência. Por muito que isso choque quem viveu a data no momento, esta é a mais pura verdade. E ao argumento de que a democracia vive de gestos simbólicos, só podemos responder que o mais simbólico de todos que é o respeito pelo outro. Estamos em Estado de Emergência, o primeiro desde 74, mas em momento algum sentimos que a Liberdade está em risco. Se pedimos a cada cidadão que respeite as regras que o inimigo nos impõe, o exemplo tem de vir de cima. E, neste caso, o gesto vale mais do que a ação em si. Pode ser o mesmo grupo que se tem reunido em todos estes dias, mas a celebração insulta o esforço que cada um de nós está a fazer por cumprir o que nos é pedido. E escusam de vir com insinuações da agenda política que se esconde por detrás destes protestos. Não somos ingénuos e é óbvio que haverá intenções menos ortodoxas. Mas não são as que movem a maioria dos portugueses que se sentem ofendidos com esta decisão. Os portugueses apenas pedem respeito. E é disso que é feito o 25 de abril. É lamentável que queiram estragar a data que melhor nos define. 25 de abril sempre.