Ler 2014
vanita
Estava frio como agora e o impulso de início de ano levou-me a uma livraria com um propósito que trazia há vários dias em mente. Queria começar as leituras de 2014 com um livro específico e ia comprá-lo nesse dia e começar a lê-lo assim que chegasse ao comboio, tal a urgência que sentia. Até hoje ainda não o li, não sei se alguma vez o farei. Não foi caso único este ano, mas o sentimento nunca foi tão forte como desta primeira vez, como aqui vos contei: são os livros que me escolhem.
Nesse dia foi o "Guerra e Paz", de Lev Tolstoi, que chamou por mim. Foi imperativo e simplesmente tive que me render. E, apesar de 2014 ser talvez o meu melhor ano em termos dos títulos que acrescentei à lista de livros lidos, não há como contornar: este foi o grande desafio do ano e o que mais me marcou. Porque é uma grande obra da literatura mundial, porque foram precisos cerca de três meses para o ler e porque nunca serei capaz de explicar o que aconteceu naquele dia em que o primeiro volume veio ter comigo. Foi uma experiência inesquecível que me lançou em aventuras que, injustamente, ficam de fora quando tenho de escolher o livro que mais me marcou em 2014.
Falo de "Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski, que terá sempre um lugar especial no meu top de favoritos, ou de "O Jogo do Mundo - Rayuela", de Julio Cortázar, que tem tanto de louco e insane como de lúcido e inesperado. Duas experiências únicas e irrepetíveis que lançam sobre mim o espectro de "nunca encontrarás nada que volte a preencher esse espaço agora deixado vazio". Um espaço onde também cabe "Bartleby", de Herman Melville, do qual prefiro não falar, ou "Planície em Chamas", de Juan Rulfo, que ficou decalcado a ferro quente num canto escondido da minha alma. Livros que não conhecia, livros que nunca esquecerei.
Num ano particularmente feliz em termos de leituras, há outros que me roubam sorrisos pelos bons momentos que passámos juntos. É o caso do ultra-mega-sucesso "A Culpa é das Estrelas", de John Green, que me fez companhia na praia e prova que sou uma leitora versátil e sem preconceitos, postura de que não abdico, ou "O Retorno", de Maria Dulce Cardoso, uma pequena pérola que recomendo a qualquer pessoa, sem credos nem convicções. Basta que seja português e, asseguro, não se irá arrepender.
Em 2014 cumpri metas, e destaco "Pela Estrada Fora", de Jack Kerouac. O filme aguardava há anos na box pela leitura do livro e valeram ambos o tempo de espera. Uma opinião pouco consensual mas é a minha, que aspiro a novos objectivos para o próximo ano. E surpreendam-se: de 2015 em diante abandono corridas literárias ou metas pré-definidas - se é que alguma vez o fiz verdadeiramente. Nunca deixarei de registar leituras - faz parte de todo o ritual de leitura - mas entrego-me ao prazer e ritmo de cada livro sem pressões exteriores. Se preciso for, farei pausas e permitirei que as palavras e histórias respirem em mim e se esgotem na forma que lhes dou. Ler também é isto e há que reaprender a fazê-lo.