Fugiram de casa de seus pais
vanita
Ando há semanas para escrever sobre este programa do Miguel Esteves Cardoso e Bruno Nogueira que passa à terça-feira à noite na RTP. Não faço ideia de qual o propósito do programa, de como nasceu a ideia ou quem convidou quem. Tropecei ali sem querer, perdi dois segundos a pensar neste fascínio que os nossos “intelectuais” mais cómicos têm pelo imaginário da criança que foge de casa porque me lembrei que o Fernando Alvim tem um livro com um nome semelhante: “No dia em que fugimos tu não estavas em casa”, e pronto, deixei-me levar por estas conversas aparentemente sem rumo, nem agenda ou objectivo. E, sendo parvo, acabou por se tornar viciante. Exactamente por isso: por ser intemporal, não estar na ordem do dia e criar a ilusão de que também nós ali estamos a botar conversa fora, esquecidos do tempo e dos temas do dia. Numa altura em que todos somos tão bombardeados com últimas horas, notificações e pedidos de actualização constante, é bom largar amarras e criar esta ilusão de conversa sem sentido, apenas pelo prazer de conversar. Ninguém está certo, ninguém está errado, não se pretende provar pontos de vista - ou talvez sim, mas só sobre coentros! - nem há uma guerra para travar. Os temas ali abordados são tão actuais hoje como eram há 20 anos ou serão daqui a 40. Não se fala de nada e fala-se de tudo. Sem mais pretensões que as que existem numa conversa entre amigos. Amigos snobs ou intelectuais, mas simples amigos. Conhecidos apenas, quem sabe. Mas quem diria que podíamos estar à conversa com estes dois uma vez por semana? E não é uma conversa qualquer, é uma conversa de grande intimidade: daquelas que só se tem em privado. É giro.