Entrei no outono da vida 🍂
vanita
Enquanto o sol me toca suave nos braços, uma tímida aragem fresca lembra-me que os dias de verão estão de fugida. Um dia depois de fazer 40, aceitei que estamos no outono. E eu entrei no outono da vida, essa estação que pode ser tão tranquila e amena quanto o desconforto provocado pela chuva e o vento nos permitem. Desde muito nova que gosto de fazer este jogo mental: divido os vários estádios da vida em blocos de 20 anos. A primavera, o tempo das descobertas e do florescimento, que embarca a infância e se prolonga até à entrada na vida adulta; o verão - todos nós temos saudades do verão! - esse tempo louco e irreverente, pleno de vida, alegria e boa-disposição, pelo qual ansiamos todo o ano e que, nesta minha construção pessoal, se preenche com os desvarios dos 20 aos 40 anos; o outono, essa agradável aragem fresca que nos aclama a fúria do verão e nos aconchega em roupas mais confortáveis e rituais tranquilos, propensa ao descanso e até alguma meditação; e finalmente o inverno, esse período que começa aos 60, sem destino predefinido, que dependendo das condições climatéricas, pode ser uma viagem de longo curso mais ou menos intensa. Faz-me sentido esta associação da vida humana com as estações do ano e ajuda-me a equilibrar e aceitar as várias fases desta aventura de estar viva. Cada estação é um desafio a que nos temos de adaptar para, dele, tirar o melhor proveito. Todas têm adversidades - dores de crescimento e maturidade - mas é possível encontrar um sentido orgânico e até espiritual que nos traz tranquilidade. Fazer 40 anos não me assusta mas enche-me de espanto. A vida pôs-me à prova demasiado cedo - na plena loucura do verão - e, sem que me desse conta, não me apercebi da aproximação do outono no horizonte. É mesmo com espanto que sinto a aragem fresca tocar-me no braço. E estou a gostar.