Da responsabilidade social
vanita
Um dia acordamos e vemos fotos de degredo de um dos actores mais reconhecidos a nível nacional na capa do jornal com maior tiragem do País. Três dias depois, o Mundo assiste a uma reportagem que revela a identidade do homem que terá executado Osama Bin Laden. Antes, são divulgados pormenores sobre o suicídio de outra figura pública, também altamente reconhecida em qualquer esquina do Globo. É a democracia, dizemos nós. E a falta de bom-senso, diriam alguns, que mal se conseguem fazer ouvir entre as mil discussões surdas que se geram um pouco por toda a parte.
Se todos estes assuntos são motivo de notícia, não tenho qualquer dúvida. Se deveriam ser notícia, desconfio que não e lamento que os jornalistas se tenham desligado da sua responsabilidade social, tão importante para o exercício da profissão. A questão é que, não sendo viável a censura de notícias, que não é, nem sequer vale a pena discutir, a liberdade assenta na responsabilidade de quem tem à sua disposição os mecanismos para a proliferação profissional da informação.
Posto isto, há que pesar na balança as motivações de cada chamada de capa ou foco de notícia. Porque é que as fotos de José Carlos Pereira na capa do Correio da Manhã são um abuso? Não é por não ser notícia, que é. Em qualquer parte do mundo, um actor que cai em desgraça é alvo de notícia. O problema é que a divulgação destas fotos não tem por valor máximo o factor notícia, já que a mesma pode ser dada sem a invasão da vida privada que estas fotos revelam. Estas fotos são crime, obtidas com intenção dolosa, e o jornal ao compactuar com os autores, pagando por elas e exibindo-as despudoradamente, está a desligar-se da sua responsabilidade social, quer com os leitores, quer com o autor.
O mesmo se aplica aquando da divulgação da identidade do homem que terá matado Osama Bin Laden, expondo-o gratuitamente a todo o tipo de retaliações. Os jornalistas têm uma arma, a informação, mas o exercício da profissional obriga a que se seja responsável no uso dos seus mecanismos. A divulgação de motivações para o suicídio - seja de figura pública ou não - provoca fenómenos de imitação, está estudado e provado. Há que saber dizer e saber o que dizer. Há que ter bom-senso e responsabilidade. Infelizmente, a classe jornalística deixou o código deontológico dentro da mala, bem lá no fundo. E é o que se vê.