A Rapariga no Comboio, de Paula Hawkins
vanita
Todos os anos há um pequeno fenómeno literário que se impõe nas livrarias um pouco por todo o mundo ocidental. Se por mérito próprio ou graças a investimentos brutais de promoção e divulgação não é agora chamado ao caso. Este ano a lotaria calhou a Paula Hawkins e ao seu "A Rapariga no Comboio". A capa já me tinha despertado interesse por ser tão invulgar e, ao mesmo tempo, servir o título de forma brilhante. Depois, vieram duas ou três críticas de quem não tinha pregado olho durante a noite até virar a última página. Sou uma fraca: livros que me deixam a pé pela noite dentro conseguem cativar a minha atenção. Fico logo de sobreaviso, ainda que, com algumas dúvidas. É preciso mais do que isso para me convencerem. E a verdade é que, a essas críticas juntaram-se muitas outras vozes, de procedências completamente distintas. Quando me apercebi, a decisão estava tomada: tinha de ler este livro. Até porque, para quem não sabe, também sou uma rapariga no comboio. É muito mais fácil convencer o alvo certo, admito. Quer dizer, como se resiste a uma sinopse que nos fala de alguém que recria histórias de vida para os estranhos com que se cruza nas suas viagens diárias? Quem é que anda todos os dias de transportes públicos e nunca fez isto? Estava convencida quando, por portas e travessas, um exemplar me veio parar às mãos. Assim, sem qualquer intervenção minha. Não hesitei. Certa de que este era menino para me deixar acordada all night long, larguei tudo e segui viagem.
Embarquei nesta carruagem e consegui um lugar confortável, junto à janela, ao lado da protagonista. Embora este romance inclua o ponto de vista de três ou quatro personagens, há uma dominante e isso tem tanto de positivo como de previsível para a trama que se desenrola. Não vos vou contar a história - leiam! - mas digo-vos que, apesar de este ser um thriller escrito de forma inteligente, com todas as técnicas para obrigar o leitor a virar página atrás de página, peca em argumento. A história que sustenta este embrulho tão bonito - e fofo! Sentiram a textura da capa? - é, no fim de contas, constrangedoramente banal. Não seria um problema - as histórias mais simples dão origem a romances belíssimos - não fosse a questão de se tornar óbvia um pouco antes de tempo. Ainda assim, vale a pena entrar neste comboio, com garantia de um tempo bem passado.