01
Ago09
How can I believe?
vanita
- A primeira vez foi completamente inesperada. Esperava uma amiga à saída da escola, recostada a um canteiro quando as estrangeiras que tinham andado por ali todo o dia se chegaram a mim. "Mas o que querem estas russas cabeludas, feias como tudo, de mim?", pensei com os meus botões. Ainda não tinha acabado de formular a pergunta e já estava de queixo caído. A primeira dói sempre mais. "Olá, sei que és muito amiga do R. É só para te avisar que ele é meu namorado!". Também demorei a perceber que não, a russa cabeluda não estava enganada. Estava a falar do R., o meu namorado. O namorado que ia lá a casa, viajava comigo e com os meus pais e com quem estava há quase um ano. Foi a primeira.
- Já estava na faculdade quando a nunca-assumida-ex-do-meu-namorado faz questão que eu a ouvisse falar ao telefone. Ainda se falava em telefones públicos, fixos nas paredes. Bem me quis ir embora, mas as minhas amigas não deixaram. Elas próprias estavam curiosas pela mensagem que a menina queria passar. "Às seis no Cais do Sodré! Não te atrases". Ok, eu tinha combinado às sete com o rapaz que esta menina nunca esqueceu, que por acaso era meu namorado. Liguei a pedir para vir mais cedo, para vir às seis. Não podia. Só às seis e meia. Arrastada pelas minhas amigas fui de autocarro da Junqueira ao Cais do Sodré. Cheguei mesmo a tempo de os ver a cumprimentar-se. Sim, ela ia encontrar-se com ele. Ele ia encontrar-se com ela.
- Estava a começar a estagiar quando me encantei por aquele que foi meu amigo muito antes de se tornar namorado. Fazíamos tudo juntos, não nos largávamos e quando começámos a namorar parecia que tínhamos uma relação muito mais longa do que era. Até ao dia em que ele decidiu embarcar com amigos do trabalho - era um jovem empresário - numa viagem a Marrocos. Ficou distante, não disse nada quando o avião aterrou, calou-se nos dias em que lá esteve. Falou comigo quase uma semana depois, quando voltou. Desdramatizou o meu chilique, que estava a ser exagerada, que não se passava nada. Mas tinha medo de me mostrar as fotografias da viagem, deu-me os presentes a conta-gotas e uns dias depois confessou-me que tinha conhecido uma miúda na viagem, que tinha dito que não tinha namorada e que tudo isso mexeu com ele. Acabámos. E ele fez tudo, mas mesmo tudo, para voltar para mim. Conseguiu, mas a M. estava sempre presente. Até porque ele não deixava de a ver, de se encontrar com ela. Sempre por razões profissionais claro. E para mais, ela ia viver para S. Francisco, tinha namorado, ia casar. Não havia drama. Eu quis ser uma namorada de mente aberta: "Se é tão importante para ti, vai ao jantar de despedida dela". Às seis da manhã recebi um telefonema. Tinham curtido. Mesmo assim, ele conseguiu recuperar-me. Até pedidos de casamento escreveu na calçada, frente ao edifício onde eu trabalhava. Um dia emprestou-me o portátil dele para me ajudar. Estava a escrever a tese de Licenciatura e assim era mais prático. Nesse dia descobri os e-mails. Estava a viver uma mentira há meses. A M. existiu muito mais do que eu podia imaginar. Mas era passado. E ainda namorámos uns anos, sempre com a lembrança da traição a atraiçoar cada passo que dávamos.
- No ano passado cai nas garras de um homem que não sabe o que quer. Na versão que eu vivi, ele deixou a namorada com quem morava porque se tinha apaixonado por mim. [Não, nunca houve qualquer aproximação romântica durante esse outro namoro. Sou pela teoria de não fazer aos outros o que não gosto que me façam a mim.] Deixou o país onde morava porque queria estar perto de mim. Ao mesmo tempo, trocava mensagens comigo e com a mulher que estava a deixar, dizendo que nos amava. Às duas! Não sei até onde chegam os contornos deste jogo duplo. Não sei se desapareceu para voltar para trás, se porque encontrou outro caminho. Sei que me mentiu. Que lhe mentiu. Sei que me roubou a vontade de voltar a acreditar. Não nele, mas no resto do mundo. E ninguém tem o direito de nos roubar assim o chão.
Expus-me demais? Talvez! Mas não posso ser feliz com tanto disto cá dentro.