Dezoito anos
vanita
Faz hoje dezoito anos que os meus vinte e sete anos se esvaíram nas palavras tumor neuroendocrino do tipo carcinóide, nunca mais me esqueci deste nome que soletro como uma mnemónica, sons que me levam de volta àquele gabinete acanhado das consultas externas no Hospital Curry Cabral. Nunca mais voltei a ter vinte e sete anos. Há momentos que nos mudam para sempre, sem que os outros reparem. Foi há dezoito anos e, naqueles dias, fechada no meu quarto e no meu mundo, só pedia que pudesse ao menos chegar aos trinta, já que casar e ter filhos me parecia ambicioso e inalcancável. Tive sorte, o susto corroeu-me mas nunca passou de um susto. Parece simples e, não o sendo, ainda bem que assim é. Roubaram-me alguns dos melhores anos mas assistir à passagem desta data é um privilégio que nunca me esqueço de agradecer. Mudou-me mas sempre acreditei que foi para melhor.