Sobre a licença menstrual
vanita
Uma em cada dez mulheres sofre de endometriose.
Vou isolar esta frase para que possam aperceber-se bem do alcance desta estatística. Em todo o mundo, uma em cada dez mulheres sofre de endometriose, uma doença crónica que se traduz em dores incapacitantes associadas ao período menstrual. Uma doença sem investigação clínica suficiente para que se conheça sequer a razão da sua origem. Existem três teorias - pouquíssimas e muito recentes - ainda não comprovadas. Uma doença ainda desconhecida por grande parte da comunidade médica em exercício no atendimento aos doentes. Uma doença praticamente sem acompanhamento clínico na segurança social, existindo apenas algum apoio privado - caro e à beira do princípio do negócio comercial dada a ausência de respostas por parte do Estado. As mulheres que sofrem de endometriose vivem dias de dor intensa muitas vezes comparada à dor de parto, dores que demoram entre sete a dez anos a serem diagnosticadas, quando são, e para as quais não existe tratamento. Sim, a endometriose é um doença que apenas encontra algum alívio na(s) intervenção(ões) cirúrgica(s) - já referi a questão dos privados, alguns deles sem comparticipação de seguros (estamos a falar de pessoas desesperadas sem alternativa). A endometriose afeta uma em dez mulheres. Mulheres que não têm sequer um reconhecimento de doença crónica que lhes conceda algum alívio na cruz (muitas vezes diária) que carregam. A licença menstrual não é para as pessoas que menstruam. A licença menstrual é para as pessoas que precisam dela. Sim, a licença levanta questões de igualdade salarial que podem deixar a progressão profissional das mulheres em causa. Apenas e só se considerarmos que a licença menstrual é um direito universal. Não, nem todas as pessoas que menstruam têm direito a licença. Apenas aquelas que precisam dela. Como qualquer pessoa doente.