2020
vanita
Usei uma máscara respiratória pela primeira vez em janeiro deste ano. Mal podia imaginar que passaria a ser um objecto do quotidiano para o resto do ano. Fiquei doente, tinha febre, tosse e falta de ar, algumas dores de garganta. Foi diagnosticado como infeção respiratória, assim mesmo, genérica. Tomei dois antibióticos e voltei para o trabalho sem estar totalmente curada. Duas ou três semanas depois participei no festival de literatura, Correntes d’Escritas, onde também esteve o escritor Luis Sepulveda. Valeu-me um bilhete para uma das primeiras quarentenas em teletrabalho num país que ainda não tinha acordado para o drama da covid-19. Regressei ao escritório e, uma semana depois, estava de volta a casa para o isolamento oficial que fechou o país e o mundo. Tive a sorte de não ficar em layoff mas ia cedendo à pressão do teletrabalho. As tais 24 sobre 24 horas sempre disponíveis dão cabo da sanidade mental de qualquer um. Em junho fiz o desconfinamento, munida de máscaras e álcool gel, e anseiei pelas férias de agosto como se de um balão de ar se tratassem. Fui recebida com uma das piores notícias da minha vida e das tais férias só me lembro de uma angústia sem tamanho que me deixou totalmente apática. Quando dei por isso, estava na Feira do Livro em trabalho e, num piscar de olhos, já dava entrada na sala de operações para uma cirurgia pouco simpática. Quinze dias depois, o meu coração ansiava por notícias de um familiar que também foi conhecer o bloco operatório. Este ano, o meu aniversário chega no rescaldo de meses muito duros, como têm sido os meses de todos. 2020 não dá tréguas mas, caramba, de vez em quando temos de nos impor e (tentar) sorrir. Que termine rápido e deixe poucas lembranças. Ainda assim, hoje e amanhã, são dias de festejar.