Não se deixem morrer
vanita
Não sei quando foi que me matei mas houve um momento, num espaço indefinido que não consigo resgatar desta minha tão puída memória, em que optei por não me mostrar, por me esconder, por não me dar, que é como quem diz, por me matar. Tempos houve em que este blog e eu éramos um só. Pensava com o teclado, vibrava com o desenho que os pensamentos difusos assumiam enquanto pousava os polegares no ecrã do telemóvel e construía alguns dos textos que mais gosto de reler quando neles tropeço. Tempos houve em que era o desafio que traçava horizonte. Lançava-me sem medo de julgamentos e escrevia muitas vezes como numa fábrica de testes e ideias. E divertia-me com isso. Oh, como me divertia. Mas nesse tempo perdido no espaço que não consigo recuperar, mutilei-me. Matei o espírito livre e criativo que sempre viveu dentro de mim e fechei-o numa sala tão escura que não o tenho consigo resgatar, acredito mesmo que morreu. E de quem pode ser a culpa se não minha? Por mais razões que encontre, a decisão terá sempre sido minha. Foi a falta de coragem que me matou. Porque acreditei em quem me descredibilizou, dei força e convicção aos preconceitos e ideias feitas de quem nunca perdeu mais do que dois segundos para ler o que eu escrevia e anulei-me sem pensar no que perdia. Ainda hoje alguém dizia que a criatividade precisa de ser estimulada, sobre pena de morrer aprisionada. Como é que deixei que isto acontecesse? Se vos servir de aviso, nunca dêem ouvidos a quem vos vê menos do que são. Não deixem de se levar apenas por que há quem não acredite no vosso potencial. Cada um de nós pode ser o que quiser. E mesmo que vos tirem o tapete do chão, que sejam humilhados ou encostados, não desistam. Há sempre outro mundo lá fora. Não deixem que vos matem.