A 1 de janeiro de 2008 aderi ao Facebook. Ainda era uma rede social de ecos e silêncios, escrevia-se em inglês e passavam vários meses sem que se fizesse sequer login. Na berra estava o Hi5 e os blogs, discutia-se o “futuro”: o microblogging das redes sociais emergentes como o Twitter ia aniquilar e abafar o espaço ocupado pelos grandes posts. Isto, na imprensa especializada, em ninchos de interessados. Era conversa que passava despercebida ao comum dos mortais.
Por essa altura, jornais e revistas portugueses sabiam que existia uma crise anunciada mas ainda não a sentiam na pele. As redações emagreciam aos poucos, não era perceptível o que ainda por aí vinha. A presença no digital era praticamente nula e bastante rudimentar. Os movimentos de massa no online eram - e sei do que falo - totalmente desconhecidos por parte das cabeças pensantes nas administrações e chefias de muitos grupos de comunicação social. A não presença no digital era um orgulho, uma teimosia e uma certeza de que não abdicavam. Os caminhos são complicados e, mesmo a esta distância, é difícil distinguir qual teria sido a melhor postura perante aquilo que, na altura, eu gostava de chamar de “mudança de paradigma”. A presença online era requerida e exigida, soubemos disso quando vimos ascender bloggers e influencers ao estatuto de mega estrelas com capacidade de influenciar as gerações para onde ninguém olha mas que nunca páram de crescer - no prazo de cinco anos, são sempre os mais novos que determinam escolhas e tendências de consumo que as marcas não podem ignorar. O jornalismo, como infelizmente vem sendo habitual, preferiu esconder-se debaixo da peneira e ignorou todos os sinais. A sua ausência no online abriu espaço para que outros - que não se regem pelos mesmos códigos de conduta e ética - emergissem e, voilá: cá estamos, em 2019, num tempo que corrobora o conceito de “fake news”, aquele que descredibiliza o quarto poder.
E é neste contexto, num contexto em que a batalha é recuperar a credibilidade perdida, que se assiste ao “corre-trás” dos meios de comunicação social, que ainda não se ajustaram à realidade digital e mantêm registos do século passado no exercício da sua actividade. Numa altura em que não há qualquer margem para erros, em que a comunicação social têm de fazer valer a sua notoriedade com o mais rigoroso jornalismo de sempre, assistimos ao apelo desesperado pelo clickbait e à procura pela galinha dos ovos de ouro no digital, com destaque para o maior tiro nos pés de sempre, que é o jornalismo copy paste. Não é preciso ter uma bola de cristal para perceber que o online está minado. Basta perder dois minutos a ler comentários a qualquer notícia publicada nas redes sociais: há sempre alguém que saca das “falsas notícias” para lançar a dúvida e chutar tudo para canto. Isto combate-se com inteligência.
Mais de dez anos depois daquele dia em que aderi ao Facebook, acredito que agora o caminho é outro e que se conquista longe dos murais e das notifcações constantes. Em 2019, os grandes jornais portugueses têm o dever de lembrar o seu percurso aos leitores e de se impôr como fontes credíveis e fiáveis, longe da espuma dos dias. Como sempre, é uma carta fechada. É como os anos novos: nunca sabemos como vão terminar.