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caixa dos segredos

Bocados de mim embrulhados em palavras encharcadas de emoções. Um demónio à solta, num turbilhão de sensações. Uma menina traída pelas boas intenções.

26
Fev18

11 anos


vanita

Tinha um Nokia de concha, que sempre odiei. Comprei-o para substituir o 6110 que me roubaram numa noite no Bairro Alto. Esse, sim, tinha lá guardadas todas as mensagens importantes do momento mais difícil da minha vida. Além de tudo o que tinha aprendido nos últimos meses, ainda tive que saber superar a perda física de momentos que já passaram. O primeiro iPhone tinha sido apresentado há pouquíssimos meses e eu ainda não tinha percebido para que raio é que aquilo servia: mais um brinquedo a centenas de euros para preencher vidas vazias.

Usava-se o Hi5, a primeira rede social a servir de fonte de informação para alguns jornais. Chegou a fazer manchete no 24horas. Onde é que anda agora o Hi5? No mundo obscuro da internet. Ninguém sabe, ninguém quer saber. O atento mundo profissional do digital discutia a substituição dos blogs pelo microblogging, consubstanciado no Twitter. Uma reviravolta que nunca chegou a acontecer em Portugal.

Apesar dessa discussão, os blogs estavam a dar os primeiros passos: era web 2.0. A interacção do utilizador com o leitor, numa medida nunca antes vista. Havia um programa de rádio que se dedicava a conhecer os bloggers por detrás desses tais primeiros blogs. Ansiava por apresentar o meu: nunca aconteceu. Mas fui convidada para ir à TVI por causa de um texto que aqui escrevi. Não entenderam nada. Acharam que tinha dito o oposto do que estava a escrever. Recusei o convite.

Usava-se o MSN para comunicar e, ainda sem o advento do FB, as linhas de status eram do mais divertido que podia existir. Mensagens directas e indirectas, comentários passivo-agressivos, havia de tudo.

O meu carro era o meu primeiro carro, em terceira ou quarta mão. Um Twingo bordeaux, que me levou ao sudoeste pela primeira vez, ao Gerês, a Pitões das Júnias, com passagem por Espanha, ao Minho e sei lá mais quantos sítios. Libertou-me finalmente da prisão dos transportes públicos para ir ver os meus pais ao fim-de-semana.

Tinha um computador portátil Asus, novo a estrear. Durante anos fiz selfies minhas com a câmara - ainda não se chamavam selfies - e adorava ver a minha própria evolução. Deixei de usar esse computador e nunca recuperei as fotos. Lá está, a prática do desprendimento que aprendi com o telemóvel.

Trabalhava há tantos anos no mesmo sítio que acreditava que a minha vida nunca mais ia mudar, que ia ficar ali para sempre. O para sempre não existia, era apenas o presente. Tinham-me diagnosticado um cancro meses antes: perdi a eternidade aos 27. Foi numa noite assim, no quarto alugado onde assistia aos Óscares, que nasceu a Caixa dos Segredos. Dura até hoje e já tudo mudou.

19
Fev18

O romance que tenho dentro da minha cabeça


vanita

A preserverança, o crescimento pessoal, a (re)descoberta dos valores essenciais: o amor, a família e a amizade. Tudo o resto são distrações que nos fazem sempre um pouco menos boas pessoas. Sim, é importante estar com os mais velhos. Sim, os mais pequenos gestos denunciam tudo o que somos. Para o bem e para o mal. E sim, a amizade não se prova: sente-se. Desde o primeiro dia. Se há dúvidas, que se dissipem. As dúvidas representam apenas a ausência do que procuramos. São uma negação e, nesse sentido, são a certeza. A vida vive-se em cada momento, como um filme em que os protagonistas, os guionistas, e os realizadores, dependem apenas dos nossos pensamentos.

12
Fev18

Carnavalar sem gelar


vanita

Se fazem parte dessa pequena minoria que tem direito ao feriado menos assumido do país e, nessa coincidência, se dá o caso de até nem serem grandes apreciadores do Carnaval, aqui vos deixo algumas sugestões com que me tenho entretido neste início de ano, que podem usar para aproveitar o dia:

LIVROS: “As Vozes de Chernobyl” e “A Gorda”. São estilos e leituras bastante distintas, uma é laureada com o prémio Nobel da Literatura, a outra é uma escritora nacional, a firmar-se na ficção com este romance. O primeiro deixar-vos-à marcados para sempre com a brutalidade dos testemunhos de quem viveu o drama de Chernobyl na primeira pessoa. O segundo é um romance leve e contemporâneo, bem escrito, que se lê de bom grado em dois tempos. 

SÉRIES: Já aqui vos falei da série de Jane Fonda, Grace and Frankie, que está alojada no Netflix. A quarta temporada já saiu e foi devorada em menos de nada. Não que o argumento seja brilhante ou uma história que agarre por aí além, a mais-valia desta série, com registo cómico, é mesmo a dismistificação do envelhecimento. Toca-nos a todos, mas há tendência para viver numa bolha de ilusão. É absolutamente corajoso que haja quem ponha o dedo na ferida.

Por falar em ferida, vem a segunda sugestão: This is Us. Ninguém gosta de recomendar uma série que, aos poucos, ganha a fama de fazer chorar as pedras da calçada. Dizer isso é reduzir um argumento brilhante, interpretações fabulosas e toda uma capacidade técnica e cinematográfica de grande nível de nos fazer entrar na vida dos Pearson. Não, não é uma série lamechas para mulheres que gostam de ver telenovelas. This is Us é ficção do mais alto nível. Não menosprezem.

Por último, e porque muitas vezes chego sempre em último, comecei a ver Uma Família Muito Moderna. Perfeita para fazer companhia a quem almoça no escritório frente ao computador e para desligar durante vinte minutos. Às vezes, também é bom não pensar. Esta é a recomendação ideal para esses momentos.

Se querem aproveitar o dia sem sair do sofá nem gelar na rua, aproveitem estas dicas.

09
Fev18

Fugiram de casa de seus pais


vanita

Ando há semanas para escrever sobre este programa do Miguel Esteves Cardoso e Bruno Nogueira que passa à terça-feira à noite na RTP. Não faço ideia de qual o propósito do programa, de como nasceu a ideia ou quem convidou quem. Tropecei ali sem querer, perdi dois segundos a pensar neste fascínio que os nossos “intelectuais” mais cómicos têm pelo imaginário da criança que foge de casa porque me lembrei que o Fernando Alvim tem um livro com um nome semelhante: “No dia em que fugimos tu não estavas em casa”, e pronto, deixei-me levar por estas conversas aparentemente sem rumo, nem agenda ou objectivo. E, sendo parvo, acabou por se tornar viciante. Exactamente por isso: por ser intemporal, não estar na ordem do dia e criar a ilusão de que também nós ali estamos a botar conversa fora, esquecidos do tempo e dos temas do dia. Numa altura em que todos somos tão bombardeados com últimas horas, notificações e pedidos de actualização constante, é bom largar amarras e criar esta ilusão de conversa sem sentido, apenas pelo prazer de conversar. Ninguém está certo, ninguém está errado, não se pretende provar pontos de vista - ou talvez sim, mas só sobre coentros! - nem há uma guerra para travar. Os temas ali abordados são tão actuais hoje como eram há 20 anos ou serão daqui a 40. Não se fala de nada e fala-se de tudo. Sem mais pretensões que as que existem numa conversa entre amigos. Amigos snobs ou intelectuais, mas simples amigos. Conhecidos apenas, quem sabe. Mas quem diria que podíamos estar à conversa com estes dois uma vez por semana? E não é uma conversa qualquer, é uma conversa de grande intimidade: daquelas que só se tem em privado. É giro.

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