Há pouco tempo, em conversa com uma deputada, reconhecíamos que o comportamento masculino era bem diferente do das mulheres. Que os homens, como forma cultural e bastante enraizada, vivem numa irmandade que os protege enquanto grupo, por assim dizer. Explicando: quando algum homem conquista um papel de relevância ou de valor, consegue um bom resultado num qualquer objectivo a que se propôs ou se encontra num lugar de destaque, quantas vozes masculinas se levantam para o acicatar, repudiar e questionar a legitimidade do seu caminho ou do que conquista? Não só é elogiado, como aplaudido pelos seus iguais. Claro que tudo isto pode acontecer porque, do lado masculino, a sociedade está de tal forma mais equilibrada que não promove invejas nem comportamentos mesquinhos. Ele conquistou aquele lugar, mas há ali ao lado outro para mim. Aliás, se eu o elogiar, abro portas para o meu próprio caminho da vitória. Sim, isto é verdade, mas também por isto é que devemos parar e olhar melhor para o nosso comportamento enquanto mulheres. Uma multidão gigante de actrizes bem remuneradas, lindas de morrer e com muito poder de fazer passar uma mensagem a nível global, uniu-se por uma causa: vestiram-se de preto por maior dignidade para o sexo feminino, pela igualdade de género, para repúdio de um certo comportamento machista que nos diminui a todas. Ora bem: é porque a Oprah é hipócrita; é porque todas elas são cínicas; é porque nenhuma delas levantou a voz antes; é porque eu sou tão mais à frente que não alinho com manifestações de gentes de Hollywood. Caramba, calem-se de uma vez. O que foi feito é bom. Ponto final. Há que elogiar e nada mais.
Adenda: e quando escrevi isto ainda não tinha tropeçado na carta que as francesas escreveram e a Catherine Deneuve também assinou. Foi muito aplaudida. Por homens também. I rest my case.