O meu coração preto
vanita
Fiz escuteira durante dez anos, dos 12 aos 22. Devia ter saído quatro anos antes, no auge do que foram alguns dos melhores momentos da minha adolescência e entrada da vida adulta. Nunca voltarei a conhecer camaradagem nem espírito de equipa como o que ali se viveu, no Agrupamento 710 Benedita. Quem passou por lá comigo, naqueles tempos, entre 1992 e 2002, sabe bem do que falo e é indescritível. Há alturas na vida em que tudo se conjuga com harmonia e o mundo faz tanto sentido que chega a ser mágico. Andar nos escuteiros, sobretudo nesse tais anos que falo, de 1994 a 1996, entra nesse campo mítico que une alguns seres humanos para sempre, com laços de amizade e admiração indestrutíveis. E é por isso que ainda hoje recomendo o escutismo aos pais de todas as crianças e jovens que conheço. Porque estas experiências ficam para sempre, regem-se por bons valores e promovem a lealdade e fraternidade como forma de estar. Tudo boas bases para a formação de jovens adultos. Claro que depois veio o revés: devia de ter desistido mais cedo. Os últimos anos que vivi no escutismo não foram bons e a desilusão com as pessoas quase que afectou de forma irrevogável - não nos termos que o Paulo Portas usa - a minha crença na instituição. Saí triste e magoada com as pessoas e com o que considerava verdadeiras traições ao espírito escutista. Levei algum tempo a distinguir os defeitos de carácter individuais e a perceber que não se confundem com a estrutura que gere e orienta as ideias basilares do escutismo. As pessoas são falíveis, têm defeitos e erram inúmeras vezes. Os ideais serão sempre a bússola que os orienta. De forma mágica, em momentos raros e únicos, como um farol que nos ilumina ao longe, nos tempos mais negros. Gosto de acreditar que isto que aconteceu com o Escutismo se aplica a vários outras vertentes da nossa vida.