Um dia destes encontrei um cartão do cidadão de um miúdo a caminho do comboio. Percebia-se perfeitamente que tinha acabado de cair ao chão, mas não consegui localizar o dono. A estação estava vazia, tinha acabado de sair um comboio. Acto imediato, penso que o melhor era publicar a foto do cartão no FB, para chegar mais rapidamente ao dono. Convém aqui explicar que quem entra por aquele lado da plataforma não passa pelas bilheteiras, pelo que, ir lá deixar o CC seria desviá-lo completamente do caminho que o dono tinha feito. Foi uma experiencia alucinante. No caminho até ao emprego aconteceu de tudo na minha página de FB. Desde amigas que rapidamente encontraram o perfil do dono, coisa que eu ali, limitada ao telemóvel, ainda não tinha conseguido fazer, a conhecidos que se apressaram a partilhar a mensagem nos seus murais, por serem ali da zona e, nunca se sabe se não está mais perto do que imaginávamos, a quem não tenha perdido dois segundos que fossem para começar a criticar: que devia ter deixado o cartão na bilheteira; que tinha de ir JÁ à polícia; que tinha de apagar os dados do cartão. Ouvi de tudo e, ao mesmo tempo que resolvi o caso, também apanhei uma camada de nervos. Acusaram-me de tudo o que foi possível em 40 minutos, com uma rapidez e desenvoltura que me fez repensar a dimensão destas discussões parvas que todos temos nas redes sociais. Porque sim, de uma maneira ou de outra, todos tinham a sua quota de razão. Mas poucos foram os que pararam para pensar que: 1) o mundo não se move à velocidade de likes e comentários; 2) as pessoas têm uma vida e não vão assim para a esquadra da polícia entregar cartões do cidadão quando estão a caminho do trabalho; 3) quando alguém está a tentar ajudar, criticar vale de muito pouco. Atrapalha, até. Em menos de uma hora tudo foi resolvido, é certo. O post foi apagado, o cartão foi entregue e ninguém saiu a perder. Só a sanidade de quem acha que está a fazer uma boa acção. É que hoje em dia, somos todos muito rápidos no gatilho.