25 de Abril
vanita
Pela primeira vez, sinto-me derrotada. Não vejo razão para celebrar a conquista de uma liberdade que não sinto no dia-a-dia. Uma liberdade que não vejo espelhada na expressão de cada um de nós. Vivemos em democracia, é o que no diz o papel. Mas não o vejo nas acções da justiça, pouco o sinto nas relações laborais, tenho dificuldade em encontrá-la nas directrizes económicas e sociais. Sim, vivemos em liberdade mas todos os dias me sinto espartilhada e sem força para lutar. Pior do que isso, sinto-me sem armas. Não há convicção nem vontade. Há sobrevivência e o salve-se quem puder, às custas do que tiver que ser. Lamento, mas eu, uma das maiores entusiastas de Abril desde sempre, não tenho energia para celebrar esta democracia que me limita com fios invisíveis. Sempre me perguntei como teria sido viver nos tempos que antecederam a revolução dos cravos. Sei agora que, antes da conquista, vivem-se tempos tenebrososos e nublosos que nos enevoam a vista. Antes da revolução, não é possível saber o caminho que irá vingar. Não é tão romântico como parecia. É, aliás, assustador.