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caixa dos segredos

Bocados de mim embrulhados em palavras encharcadas de emoções. Um demónio à solta, num turbilhão de sensações. Uma menina traída pelas boas intenções.

23
Jan17

Meninos e meninas, senhores e senhoras!


vanita

O grande palhaço laranja sentou a cabeleira amarela no cadeirão da Casa Branca. De caneta em riste, na Sala Oval, começou logo a rabiscar assinaturas. Apagou sites em Espanhol, determinou o fim de políticas de protecção social e assegurou a mudança de estratégia em relação à poluição do meio ambiente. Sempre com um sorriso na grande cara laranja, o palhaço de cabelo amarelo, contestou os contestários e disse que os jornalistas eram maus. Apresentou factos alternativos para garantir que os reais são errados. De cada vez que rabisca um papel, assassina e viola umas quantas leis constitucionais. Quer lá saber. O grande palhaço passa a mão pelo cabelo, escreve mais um Tweet e pergunta: onde estavam durante as eleições? E segue determinado o seu número de circo. Senhoras e senhores, meninos e meninas: aplausos!

21
Jan17

Afinal, não somos todos heróis


vanita

Nasci quatro anos depois do 25 de Abril e andava na escola primária quando Mário Soares assinou os papéis de adesão à CEE. Fui percebendo, conforme fui crescendo, que a minha infância surgiu nos tempos de acalmia após a tempestade. Não havia PREC, nem ditadores, nem lápis azuis, nem fascismo, nem censura. Demorei a entender a quem se referiam quando falavam no Tempo da Outra Senhora. Por muito que os adultos não acreditassem, o 25 de Abril era abordado pela rama em dois minutos nas aulas. Sabia apenas que tinha sido uma revolução e que tinha devolvido algum poder ao povo. Demorei a ter acesso aos pormenores e a todas as vertentes dessa viragem na nossa história. Sim, durante algumas décadas, não se falava abertamente em Salazar, nem no 25 de Abril. Os primeiros livros e séries sobre o tema começaram a surgir quando eu já trabalhava há largos anos. E o fascínio por um povo que luta por ideais era tão grande, que escolhi a revolução dos cravos para tese de mestrado e sempre lamentei o facto de não viver em tempos de lutas sociais e de conquistas por direitos civis. Durante duas décadas, a vida em Portugal era tão calma e sem sobressaltos que ansiava pela capacidade que uniu o povo na mudança de regime. O vazio de ambição e conforto de quem não se preocupa com o mundo para lá do próprio umbigo angustiava-me porque, ao contrário do que possa parecer, apesar de não se viver mal nesses tempos, continuavam a existir clivagens sociais e valores distorcidos. Continuava a haver por que lutar. São incontáveis as vezes que lamentei não ter vivido em tempos mais aguerridos, em que o meu comportamento e a minha determinação pessoal pudessem fazer a diferença. Quase sem darmos por isso, tudo mudou. Vivemos tempos absurdos hoje em dia, assistimos diariamente a um novo holocausto e à ascensão de poderes políticos que limitam as liberdades individuais com base no medo e da repressão, compactuamos com medidas de corrupção e de censura e assentimos em silêncio, como já o tinham feito os nossos antepassados. Ao contrário do que idilicamente imaginava, não há heróis. Quando o mundo desmorona à nossa volta, não pegamos em cravos e restituímos o equilíbrio. A mudança está nas nossas mãos, mas apenas se formos muitos a pensar da mesma forma e, enquanto houver possibilidade de uma das partes sair beneficiada, essa união não irá existir. É preciso descer ainda mais baixo para que todos anseiem pelo mesmo. E ainda estamos longe disso, talvez estejamos apenas no início. Vêm aí tempos tenebrosos e não, não somos todos heróis.

18
Jan17

Já não vivemos no tempo dos ardinas!


vanita

Há um problema comum aos dois últimos congressos de jornalistas: a pouca orientação das discussões para encontrar soluções exequíveis e fáceis de por em prática, que garantam uma melhoria quer do jornalismo como actividade quer as condições do jornalista enquanto trabalhador. Em 1998, tinha apenas 19 anos e ainda não era jornalista mas já estava na recta final do curso de Comunicação Social e acompanhei atentamente o decorrer das sessões com a mesma angústia com que o fiz agora. É sabido que estes congressos se regem por determinadas regras e que não é possível abarcar a infinidade de ângulos e questões que se podem levantar quando nos dispomos a analisar um tema. O problema nem é tanto esse, mas mais o facto de este formato acabar por anular a possibilidade de se definirem caminhos e estratégias. Há demasiados convidados, mesas redondas que mais parecem jantares de Natal de famílias alargadas, muita dispersão de dados e números e tanto que não pode deixar de ser dito que acaba por não existir uma linha condutora com vista a um resultado final satisfatório. O jornalismo está a atravessar um período problemático e decisivo. São ridículos os que pensam que a isto não se chama crise mas discuti-lo é desviar o assunto, que foi o que tanto se fez nestes últimos dias. Há uma mudança de paradigma que se quer negar. O jornalismo, tal como o conhecemos, não é viável economicamente por inúmeras razões mas, pasmem, sem lucro, não há empresa que resista, menos ainda com capacidade para sustentar redações e pagar ordenados dignos. Por muito que se preze a distância entre exercício do jornalismo e a actividade económica e comercial que o sustenta, há uma altura em que temos de parar para pensar nisso. E essa altura é agora. Agora que o modelo de negócio em vigor está claramente em falência, agora que a versão em papel dos jornais deixou de responder às necessidades dos leitores, agora que os jornalistas insistem em manter uma estrutura e dinâmica que não se ajusta à procura de informação vigente nos dias de hoje. Por muito que se tente tapar o sol com a peneira, não há como fugir à realidade: os leitores estão na Internet. Obviamente que há muitos e excelentes ninchos de mercado no papel que irão garantir a sua sobrevivência no futuro. A sobrevivência do jornalismo de qualidade, de investigação, feito com tempo e dedicação e muito objectivo, dirigido a grupos muito específicos. Mas isso são ninchos. A conversa global é outra. Há que adaptar as redações e o trabalho do jornalista à procura dos leitores. E a busca dessas soluções deveria ter sido um dos objectivos do congresso da última semana. De que adianta assinalar a precariedade se não se olha para os problemas com atenção? Sim, ganha-se mal e há gravíssimas discrepâncias nas redações. Muitos destes problemas já existiam há quase vinte anos e foram abordados no congresso anterior. Não se conseguem aumentar ordenados e criar melhores condições de trabalho se continuarmos a organizar as redações para o tempo dos ardinas! De que adianta ter jornalistas a fechar páginas para lá da meia-noite, se essas páginas estarão desactualizadas de manhã, quando os jornais forem colocados à venda? A sério, percamos algum tempo a pensar bem nisto. Há uma conferência de imprensa ao fim da tarde: quem é que, devidamente interessado, ainda não sabe o que se lá passou até à manhã do dia seguinte? Nessa altura, interessam-nos reações e contra-reações ao que lá se passou. Um jornal em papel não acompanha esta velocidade dos acontecimentos. É claro que não nos podemos tornar escravos do imediatismo, mas os números das vendas dos jornais estão aí para nos indicar um caminho e mostrar que tratar o online como refugo das redações talvez seja um erro. Digo talvez porque se soubesse a solução milagre para este problema estava rica. Mas era este o tipo de debate que deveria ter existido no congresso de jornalistas. Que soluções podemos encontrar para a falência de um modelo e o advento de uma postura dos leitores que ainda não é economicamente rentável? Qual o melhor caminho para responder ao desafio destes tempos tão cheios de tudo e tão vazios de conteúdos e ideias? Iremos debater novamente a precariedade daqui a 19 anos ou será que o caminho nos leva para soluções que permitem equilibrar as condições de trabalho?

12
Jan17

Doze dias já lá vão e amanhã é sexta-feira 13


vanita

À velocidade de um comboio antigo, sem pressa para chegar, os dias escorrem como areia entre os dedos. Acordamos, dormimos, dormimos e acordamos. Amanhã é sexta-feira 13. E o que fizémos com os primeiros doze dias do ano? Melhor, como escolhemos encarar o que os primeiros doze dias nos trouxeram. Não mudamos a linha nem o caminho que o comboio segue, mas podemos decidir o estado de espírito que levamos. Entre notícias menos boas, um funeral, a certeza de que dificilmente regressarei ao jornalismo, a mesmice de tanta coisa que me irrita mas que não posso mudar, a felicidade de tomar uma decisão a dois, as promessas do ano podem não ser as mais auspiciosas. Mas será mesmo isso que o define? Passaram doze dias e o balão de euforia de ano novo esvaziou-se. Entregamo-nos ao pessimismo do dia de azar e recomeçamos os erros a partir de segunda-feira ou pomos a cabeça de fora, apanhamos ar fresco e apreciamos a viagem? Amanhã é o dia que quisermos que seja. E não, eu não sou o Gustavo Santos. Mas às vezes pareço.

Se calhar escrevo um livro.

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