Je suis DN
vanita
Podia ter muito a dizer, como tanto que tenho lido, sobre a saída do Diário de Notícias do edifico construído de raiz para o albergar. Não tenho, nunca trabalhei no Diário de Notícias, apesar de ter sido o meu sonho de infância. Trabalhei sim, muitos anos, no edifício do Diário de Notícias. E é como uma casa para mim. Passem os anos que passarem, aquela esquina junto ao Marquês de Pombal tem o tamanho da minha casa, do meu lar. É dali que sou, como diz a minha amiga Lina. E o que me tem emocionado perceber que sou de uma casa cheia de gente, cheia de histórias, que não é mais ou menos de quem quer que seja, é de todos. Nos últimos dias, têm sido inúmeros os relatos emotivos intrinsecamente ligados àquelas paredes. Histórias de vida, com choro, lágrimas e angústia, que é cola que dá força aos momentos de alegria, diversão e boa-disposição que ali se viveram. E isto é apenas a ponta do iceberg. Muitas outras gerações por ali passaram, por ali viveram e se apaixonaram. Pelas letras, pelas notícias e as suas histórias, pelos colegas, pelo amor a uma profissão que está tão necessitada de carinho. Mas não, não tenho autoridade para escrever sobre o Diário de Notícias, porque não é o meu jornal. Não enquanto jornalista. Posso apenas falar como cidadã. E como cidadã não concebo a falta de empatia com esta mudança. Inevitável, bem sei. As leis do mercado estão aí para justificar todas decisões. Mas porque é que a população não se indigna? Por que é que se lêem apenas relatos de quem lá vive ou viveu momentos únicos? Estamos a falar de património cultural, estamos a falar da identidade nacional. Mesmo que nada mude, porque é que não nos manifestamos? Porque não mostramos a raiva que sentimos por um edifício com tanta história se desfazer em valor para saldar dívidas comerciais? Somos assim são indiferentes ao mundo que nos rodeia?