Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

caixa dos segredos

Bocados de mim embrulhados em palavras encharcadas de emoções. Um demónio à solta, num turbilhão de sensações. Uma menina traída pelas boas intenções.

29
Nov16

Não foi para isto que se fez o 25 de Abril


vanita

Não aprendemos a costurar, nem a cozinhar, nem a passar a ferro, menos ainda a ser boas donas de casa. Somos independentes, profissionais e cultas. Temos empregos fora de casa e conseguimos ser mães com muito mais dificuldade do que podemos ou nos deixam admitir. Não queremos perder o estatuto da igualdade nem que, para isso, tenhamos de sofrer em silêncio, disfarçar o inconfessável e sonhar com uma vida melhor, com dinheiro suficiente para pagar a quem faça por nós o que deixámos de aprender. Somos mães mas antes de sermos mães somos cool e promovemos a cultura da juventude eterna. Abraçamos os trinta e os quarenta como se ainda agora estivéssemos a entrar nos vinte, nunca baixamos a guarda. Que Deus nos livre de tal sacrilégio, ainda nos confundem com uma matarruana que não saiu da aldeia, uma dessas miúdas sem visão que trocou um diploma por uma vida igual à das nossas avós. Temos mais de trinta mas nunca seremos como elas, este elas cheio de desprezo e piedade. Somos azedas, cruas e vazias mas enchemos os murais de selfies com sorrisos cristalizados, pouco genuínos, bem estudados. Disfarçamos imperfeições com filtros e seguimos para o próximo evento com a frescura de uma laranja espanhola. Resplandecente por fora, oca por dentro. Porque esta imposição da igualdade nos consume e destrói. Deixamos passar os anos e as décadas e continuamos a recusar agarrar a nossa vida, o nosso conforto. Antes comer fora todos os dias do que agarrar nos tachos e panelas. Um lava-loiça cheio não tem o mesmo impacto numa foto de Instagram. Recusar convites para arrumar roupa e limpar o pó? Não foi para isso que se fez o 25 de Abril! Que desonra dobrar meias num sábado à noite. Há todo um elenco de actividades desenhado para fazer check in e nenhum deles inclui esse pano do pó, menos ainda o aspirador. Somos maiores do que isso, mesmo que no fundo sintamos falta desse conforto. Conquistámos tudo mas, na ânsia de nunca deixar de hastear a bandeira da modernidade, perdemo-nos. A igualdade não se conquista assim. Não é isto a liberdade.

21
Nov16

Semana absolutamente fantástica


vanita

Depois do bombom que foi a Netflix ter finalmente disponibilizado as duas últimas temporadas de Downtown Abbey (acho que já nem me lembro bem dos vários argumentos), esta prepara-se para ser uma semana ao melhor estilo é-quase-natal. A tradução em português do último livro da colecção de Carlos Ruiz Záfon iniciada com «Sombra do Vento» chega às livrarias nacionais na quarta-feira, um mimo da editora Planeta. Não obstante, a semana culmina com o regresso das Gilmore Girls, na sexta-feira. A Year in The Life é uma temporada de quatro episódios, de uma hora cada, que promete trazer de volta Lorelai, Rory e Luke. Finalmente vamos saber realmente como termina esta história. Sim, sei que me estou a tornar repetitiva, mas este ano o Pai Natal chegou mais cedo e ando louca com isso.    

18
Nov16

Je suis DN


vanita

Podia ter muito a dizer, como tanto que tenho lido, sobre a saída do Diário de Notícias do edifico construído de raiz para o albergar. Não tenho, nunca trabalhei no Diário de Notícias, apesar de ter sido o meu sonho de infância. Trabalhei sim, muitos anos, no edifício do Diário de Notícias. E é como uma casa para mim. Passem os anos que passarem, aquela esquina junto ao Marquês de Pombal tem o tamanho da minha casa, do meu lar. É dali que sou, como diz a minha amiga Lina. E o que me tem emocionado perceber que sou de uma casa cheia de gente, cheia de histórias, que não é mais ou menos de quem quer que seja, é de todos. Nos últimos dias, têm sido inúmeros os relatos emotivos intrinsecamente ligados àquelas paredes. Histórias de vida, com choro, lágrimas e angústia, que é cola que dá força aos momentos de alegria, diversão e boa-disposição que ali se viveram. E isto é apenas a ponta do iceberg. Muitas outras gerações por ali passaram, por ali viveram e se apaixonaram. Pelas letras, pelas notícias e as suas histórias, pelos colegas, pelo amor a uma profissão que está tão necessitada de carinho. Mas não, não tenho autoridade para escrever sobre o Diário de Notícias, porque não é o meu jornal. Não enquanto jornalista. Posso apenas falar como cidadã. E como cidadã não concebo a falta de empatia com esta mudança. Inevitável, bem sei. As leis do mercado estão aí para justificar todas decisões. Mas porque é que a população não se indigna? Por que é que se lêem apenas relatos de quem lá vive ou viveu momentos únicos? Estamos a falar de património cultural, estamos a falar da identidade nacional. Mesmo que nada mude, porque é que não nos manifestamos? Porque não mostramos a raiva que sentimos por um edifício com tanta história se desfazer em valor para saldar dívidas comerciais? Somos assim são indiferentes ao mundo que nos rodeia? 

Pág. 1/3

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2013
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2012
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2011
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2010
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2009
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2008
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2007
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub