Pai Nosso, de Clara Ferreira Alves
vanita
É um osso duro de roer, este romance de Clara Ferreira Alves. Assim como a realidade que retrata. Tal como a autora, também a protagonista desta história - melhor, a figura central - é uma pluma caprichosa que não se compadece com os conhecimentos dos leitores. Para "o fantasma", assim é apresentada Maria, ou o interlocutor sabe tanto como ela, ou nem merece uma possível troca de palavras. O mesmo se aplica ao leitor. O ritmo frenético e telegráfico, os avanços e recuos, não permitem pausas para explicações, menos ainda adaptações à linguagem comum. Aqui escreve-se em registo de reportagem de guerra, com terminologias e contextos próprios daquele ambiente e quem não consegue acompanhar fica de fora. Este não é um romance fácil, chega mesmo a ser exasperante pela ausência de pequenas bóias de salvamento a quem chega sem aviso prévio, bóias que indiquem para que direcção corre a história, ou até em que personagem nos focamos em cada momento. E só já bem a meio do livro conseguimos encontrar um fio condutor que nos leve até ao desfecho. Isto se a persistência nos permitir lá chegar. Aí sim, podemos descansar. É um bom livro, com algumas falhas, claro, mas um livro que não nos sairá da cabeça durante muito tempo. Muito pela impressão que a narrativa confere à história. Ainda assim, não é romance que agrade a todos, o que, em si, até pode ser um elogio.