Bodies, ou o entretenimento levado ao extremo
vanita
Em dia de Carnaval, que melhor programa do que visitar a tão aclamada exposição "Bodies - Descubra o Corpo Humano", que está na Cordoaria Nacional, em Lisboa? Claro, em dia de Entrudo, vamos ver corpos humanos dissecados. E lá fomos, até porque, é uma oportunidade rara e, na minha ideia, imperdível. Pois, mudei de opinião. Foi preciso ver e explorar a fundo o interior de uns quantos chineses para começar a ter noção do quão perverso e pouco pedagógico tudo aquilo pode ser.
Há mesmo necessidade de privar o corpo humano de um nível mínimo de dignidade e serrá-lo em fatias para dispor como se de um catálogo de posters se tratasse? Conteúdo realmente informativo, tem pouco. A massa humana - bem conservada - não é de todo a melhor forma de se mostrar doenças e mudanças impostas pelo estilo de vida, porque não são visíveis ao olho destreinado do comum dos mortais. No fundo, vê-se apenas uma amalgama amarelada, que se confunde e baralha mais do que ensina.
O que dizer as posições em que aqueles corpos estão expostos? São todos bailarinos e atletas, mas o que choca mesmo é a ausência de sentimento de respeito pelas pessoas que um dia habitaram aqueles tecidos. Sobretudo das mulheres. Não há um critério de veneração pelo ser humano e é isso que mais me custa aceitar. Bem mais do que ver os órgãos, ossos, músculos e veias ao vivo e a cores, senti como se estivesse num salão de brinquedos de crianças muito perversas. E não gostei. À noite tive necessidade de fazer uma pequena oração por aqueles chineses que não me saem da cabeça. Porque podiam ser um de nós.