Música para Camaleões, de Truman Capote
vanita
Apaixonei-me por esta edição de "Música para Camaleões" desde que lhe pus a vista em cima. As cores da capa, improváveis, fortes, quentes, a agarrar a vista para não mais largar. Sim, primeiro foi a capa. Seguiu-se o conselho de origem pouco plausível para o ler. Depois a prenda que me caiu no regaço no momento certo. Não sou a maior fã de livros de contos ou histórias curtas. Note-se a diferença: é das compilações de contos ou histórias curtas em livros que não gosto. Mas, ainda assim, foi-me impossível resistir à aura deste livro, e deste autor, confesso. Há qualquer coisa de magnético em Truman Capote, a que não consigo fugir. E foi com deleite que me deixei levar pelos relatos e devaneios de um homem que, além de brilhante, também não esconde a vaidade exuberante e um ego balofo que o fazem único. Um ser que tem tanto de detestável como de magnífico. Vê-lo discorrer sobre a vida de estrelas com quem tinha a sorte de lidar por questões profissionais, deixá-lo destilar ódio temperado com algum humor, enquanto expõe fraquezas e vícios de quem lhe abriu a porta de casa e, até do coração, é um exercício desgastante e, ao mesmo tempo, fascinante. Pouco antes de morrer, Truman Capote decidiu expor em "Música para Camaleões" histórias semi-privadas de figuras que conhecia bem, tornando, com isso, o resto dos seus dias num verdadeiro Inferno por se ter dado a tal atrevimento. Uma bomba datada que apenas podemos entender se a tentarmos trazer para os dias de hoje. De todos aqueles escândalos, só a relação próxima com Marilyn Monroe resiste ao passar do tempo e nos consegue realmente cativar. Tudo o resto são acertos de contas passadas que não nos tocam, servindo apenas para confirmar o imenso talento do autor para o registo de crónica social. Essa sim, uma experiência que fez escola e ainda podemos encontrar, um pouco por todo o lado. Basta estarmos atentos.