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caixa dos segredos

Bocados de mim embrulhados em palavras encharcadas de emoções. Um demónio à solta, num turbilhão de sensações. Uma menina traída pelas boas intenções.

05
Mar15

Mil Sóis Resplandescentes, de Khaled Hosseini


vanita

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Nunca quis ler este livro, esta é a verdade. Só o fiz por insistência de uma amiga. Já tive a minha fase de leituras que alertam - com cruéis relatos verídicos - para a misoginia e a completa ausência de direitos das mulheres em países de cultura não ocidental. Tão chocantes e marcantes que os tenho entranhados na memória, para todo o sempre. Depois do horror de "Vendidas", de Zana Mushen, e da depressão que se lhe seguiu, perdi a capacidade de lidar com este tipo de maldade. Prefiro manter-me longe, por muito cobarde possa parecer. Tomada consciência desta realidade, e do pouco que podemos fazer para a mudar, torna-se demasiado doloroso. Ainda assim, segui de peito aberto para este livro de Khaled Hosseini, que tantos seguidores conquista um pouco por todo o lado. Não é uma história tão crua como a de Zana e Nadia do livro "Vendidas", que relata um caso verídico, sem um final que nos acalme a angústia em que mergulhamos. Em "Mil Sóis Resplandescentes", a vida de duas mulheres, de gerações diferentes, serve de palco para nos contar a história dos últimos trinta anos do palco de guerra que se vive no Afeganistão. Mais do que a história de Mariam e Laila, casadas com o mesmo homem em circunstâncias de enorme atrocidade, este livro pretende mostrar ao mundo como as diferentes disputas militares influenciam a vida do povo afegão, mais precisamente no dia-a-dia das mulheres.  


Khaled Hosseini sabe o que faz. A escrita é bonita e o autor faz uso das melhores técnicas de narrativa para o tipo de romance que tem em mãos, com todos os volte-faces que irão agarrar o leitor e conquistá-lo de forma quase inesperada. As personagens são quase lineares - talvez até demais - mas acabamos por desculpar essa falta de empenho quando entendemos que o foco está na evolução de um país que está permanentemente em guerra. Reconheço que não tinha noção clara do percurso militar que se tem vivido no Afeganistão e, lê-lo na perspectiva de uma das personagens que nasceu no mesmo ano que eu, deu-me acesso a uma realidade chocante. Essa descrição é, do meu ponto de vista, a mais-valia de "Mil Sóis Resplandescentes", um livro testemunho que não deve deixar ninguém indiferente.

04
Mar15

Lápis Azul


vanita

Quando andava no ciclo preparatório tive um programa de rádio semanal. Era emitido na cantina escolar todas as quintas-feiras das oito às nove da manhã e, além de perguntas, adivinhas, anedotas e passatempos, passava o imenso reportório que os professores nos punham à disposição. Eu insistia especialmente naquela cassete com as melhores músicas dos Beatles. Paradoxalmente, o programa chamava-de Lápis Azul. E não, nessa altura, ainda não estava estava familiarizada com a censura. Embora já fosse condicionada com as músicas que me deixavam passar durante o programa. Podia fazer aqui tantas alegorias. Mas deixo isso para quem se quiser dar ao trabalho. Senão, ficam assim, que leitores e bloggers que pensam são coisa para dar demasiado trabalho.

02
Mar15

Obviamente, demita-se!


vanita

Sabemos que nunca acontecerá, já o vimos fazer pior que isto. Passos Coelho alega que se viveu acima das possibilidades, que temos de cumprir os ditames da Troika, que não podemos compactuar com a irresponsabilidade grega mas admite que "não tinha consciência dessa obrigação" quando se fala do facto de não ter as suas contas em dias com a Segurança Social. É ignóbil, asqueroso e inqualificável. Mas isso é como o irrevogável do outro. Gasta-se em três ou quatro semanas de indignação. 

01
Mar15

A Sangue Frio, de Truman Capote


vanita

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O jornalismo de ficção, sobretudo de crime, nunca me atraiu por aí além. Mas quando este "A Sangue Frio" me veio parar às mãos, não tive como resistir. Até porque, quer queiramos quer não, a imagem romanceada de Truman Capote já vive na nossa memória colectiva como a personagem recriada por Philip Seymour Hoffman e, convenhamos, ninguém resiste a este actor. Ainda mais agora, que desapareceu de forma tão inesperada. Foi uma boa surpresa.

 

Antes de começar a ler, sabia apenas que se tratava de um crime brutal cometido no Kansas, na década de 50. Nunca me interessei por mais pormenores, que isto de histórias macabras, basta estar atento às notícias de todos os dias. O que não falta é material para livros e "romances de ficção". Mas a data, a data também mexeu comigo. O criminoso assalto que vitimou a sangue frio toda a família Clutter ocorreu a 15 de Novembro de 1959, exactamente dois dias antes de a minha mãe nascer. Por alguma razão estranha, esta coincidência fez-me sentir alguma aproximação pessoal à história.


E o que dizer sobre este livro que Truman Capote clama estrear um novo estilo de romance inspirado em histórias reais? Pode começar-se por elogiar a forma e estrutura da obra. O reconhecimento é merecido. Desde o início, Truman Capote consegue captar a atenção do leitor, servindo de técnicas literárias e jogando com suspense, ao mesmo tempo que cria relações de cumplicidade entre leitor, personagens e o próprio relato. O jornalista acompanha os últimos momentos de vida dos membros da família Clutter em paralelo com toda a acção dos assassinos, lançando pequenos enigmas e dando algumas respostas de avanço. Quando nos apercebemos, estamos completamente envolvidos na trama que fez as páginas dos jornais durante mais de sete anos, nos Estados Unidos.

 

Mais do que isto. Truman Capote manipula o relato dos acontecimentos e, com ele, leva-nos a tomar partidos pelas partes. As sensações não são nossas, mas são-nos habilmente incutidas pelo jornalista que, claramente, se deixou envolver emocionalmente com as questões que culminaram com o assassinato desta família evangélica do Kansas. Afinal, foram precisos seis anos para que o livro "A Sangue Frio" visse a luz do dia. Seis anos e a ajuda da sua amiga de infância, Harper Lee, autora do romance "Mataram a Cotovia", que terá sido determinante para a conclusão do livro. Um livro que vale a pena ler. 

01
Mar15

O Aleph, de Jorge Luís Borges


vanita

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Pode ser encarado como humildade, ignorância ou até alguma preguiça. A verdade é que há muito queria introduzir Jorge Luís Borges nas minhas leituras e fiquei radiante quando me ofereceram "O Aleph" no Natal. A certeza de que iria conhecer um mundo novo e entrar nos meandros que deram origem ao realismo mágico, o mesmo que serve de mote a um dos melhores livros de sempre - "Cem Anos de Solidão", de Gabriel Garcia Marques - lançou-me neste livro de contos com tanto entusiasmo, que acabei por esbarrar na minha falta de bagagem cultural e filosófica. Jorge Luís Borges é para entendidos, não para incautos. Por muito que se queira, a vontade de conhecer não chega para se estar à altura de um autor como este, considerado um dos maiores nomes da literatura mundial.


Não é tanto a ilusão que se mistura com a realidade que nos apanha desprevenidos, nem o ambiente fantástico que explora temas como a vida e a morte, a eternidade e a imortalidade, mas sim o elevado registo de conhecimento do autor que nos deixa à deriva. Composto de contos escritos em meados do séc. XX, numa altura em que o acesso à Internet era inexistente - esqueçam lá isso do Google -, "O Aleph" engloba teorias e fundamentos apenas possíveis a verdadeiros estudiosos, um conceito cada vez menos em voga. Das referências às alusões e simbolismos, todas as histórias criadas por Jorge Luís Borges promovem um debate intricado do qual me senti excluída por falta de bases. É triste assumi-lo, mas é a mais pura realidade.

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