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caixa dos segredos

Bocados de mim embrulhados em palavras encharcadas de emoções. Um demónio à solta, num turbilhão de sensações. Uma menina traída pelas boas intenções.

29
Set14

"Crime e castigo", de Fiódor Dostoévski


vanita

 

 

 

Como é que posso dizer que gostei de um clássico russo sem soar a 1) snob, 2) pseudo-intelectual, 3) com a puta da mania ou, pior, 4) mentirosa? O problema com estes livros que são considerados obras-primas da literatura mundial é que vivem envoltos numa aura de mistério, como se fossem intocáveis ao comum dos mortais. Sobram mitos em volta dos grandes escritores e a convicção que se cria é a de as suas obras são tão difíceis e elaboradas que o melhor é passar ao largo, sob pena de se sofrer um derrame cerebral se ousarmos tocar-lhes. Um erro, senhores! Agora posso dizer, por experiência, que em vez de se perder tempo com dois, três ou quatro títulos assim-assim, que nos deixam com uma sensação desconfortável de balão meio cheio, mais vale dedicarmo-nos a um destes livros que, por alguma razão, geram consenso gigante há uma enormidade de anos. Nada disto é um bicho de sete cabeças, posso assegurar. Não são histórias de mastigar e deitar fora, não, não são. Mas por isso mesmo é que valem tanto a pena.

 

Aqui o leitor terá sempre um papel activo. Ver-se-á obrigado a questionar, a usar a cabeça, a reflectir e a tomar partido. Ser-lhe-á exigida uma leitura activa, atenta e, por isso mesmo, acabará por se relacionar emocionalmente com ideias que, embora escritas há bem mais do século, se mantêm actuais, porque vão à essência do que é o ser humano. Foi o que se passou comigo, com este "Crime e castigo", que trazia debaixo de olho desde há muito. Sem querer ser 1) snob, 2) pseudo-intelectual, 3) com a puta da mania ou, pior, 4) mentirosa, digo-vos que este é um dos melhores livros que me passaram pelas mãos. Se não mesmo o melhor. Impossível, pelo menos para mim, não nos identificarmos com Raskolnikov e todo o turbilhão de sentimentos que o movem durante o tempo da acção que, neste livro, se passa mais na cabeça das personagens do que no espaço físico. É um livro febril, que se lê quase de rajada, tal o desconforto que causa. Lemos porque queremos acabar com o sofrimento que nos consome, porque precisamos de descansar mas, também, porque nos deixamos enredar pela trama de Dostoiévski. Ah, quem me dera poder dizê-lo sem soar tão mal! Porque o preconceito dos livros não se esgota na má literatura, também os bons livros captam olhares de soslaio. E este é um desses casos. O meu conselho? Esqueçam isso tudo. Se ainda não conhecem o drama de Raskolnikov e procuram uma história que vos arrebate do princípio ao fim, preparem-se: este pode ser o livro que procuram. Mas ficam desde já avisados, que é um caminho sem retorno e nem sequer vos prometo que vos vá deixar mais felizes. É possível, sim, que esta experiência vos leve a questionar o mundo que vos rodeia, o que, para mim, é sempre uma mais-valia. E sim, já sinto falta de Raskolnikov. Sim, sim, o criminoso. Sinto falta do criminoso.

28
Set14

Do novo de Saramago


vanita

Adoro o título "alabardas, alabardas, espingardas, espingardas". É atrativo, entusiasmante e cumpre o objectivo de me deixar curiosa sobre o que aí vem. Lamento, por isso mesmo, que na capa, o título de tenha resumido a "alabardas". É que se há sítio onde o título deve constar é, precisamente, na capa. E, com este estúpido pormenor, vai-se toda a genialidade.
25
Set14

O sentido das greves


vanita

Hoje há greve de 24 horas no Metro de Lisboa.

 

A greve, como bem se sabe, é um instrumento de luta dos trabalhadores que foi conquistado a pulso pelas classes trabalhadoras oprimidas do tempo da Revolução Industrial. Um mecanismo de reinvindicação por melhores condições de trabalho que deve ser encarado com o máximo de seriedade, pelo sangue, suor e as lágrimas que foram derramadas para que o exercício do seu direito fosse consagrado. Esta é a razão por que existe uma atitude de reverência e sobriedade em relação a qualquer trabalhador que se sinta no dever e obrigação de fazer uso de uma paralisação do trabalho que, felizmente, está consagrada no Código do Trabalho. 

 

Posto isto, penso que não restam dúvidas quanto ao valor da greve.

 

Assim sendo, por que razão as sucessivas e ininterruptas greves dos trabalhadores das empresas de transportes públicos são alvo de contestação por parte da população que, a pouco e pouco, vai perdendo a vergonha de dizer o que realmente sente?

 

Ora bem, é bastante simples, mas vamos explicá-lo para que não haja mal-entendidos.

 

Como se expôs acima, a greve é um direito adquirido, o instrumento nobre da luta dos trabalhadores. Tal como se entende, a greve é um recurso para ser usado com parcimónia, de forma objectiva e, sobretudo, com vista a resultados eficazes. E é exactamente neste ponto que os trabalhadores das empresas de transportes públicos falham. Ao usar o mais nobre instrumento de luta de forma sistemática, sem objetivos claros e bem definidos e sem a presença dos trabalhadores nos locais de trabalho, como têm vindo a fazer no último ano, estão a banalizar o último recurso dos assalariados, fazendo com que perca a sua eficácia, com prejuízo para TODOS os trabalhadores.

 

(deixarei de parte a questão de estarem a prejudicar terceiros em lugar de afectarem a vida daquelas empresas e dos seus administradores como depreende que seja o real objectivo nos vários comunicados que fazem)

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