Acabei de tropeçar na fita que me escreveste. Não foi a primeira vez, acontece com frequência. Guardo-a numa caixinha, separada de todas as outras fitas e longe da pasta da benção, bem ao alcance da minha vista. Sei o que a caixa contém mas é raro ceder ao impulso de voltar a ler as palavras cujo sentido já conheço de cor. Não sei que força me levou a fazê-lo hoje, gosto de pensar que de alguma forma és tu que me guias sempre que o faço. E chorei. Chorei como se deve chorar poucas vezes na vida. Chorei por mim, por ti, por tudo o que já não é, pela pessoa que já fui e por já não estares cá para chorares comigo pelo que a inevitável passagem de tempo faz connosco. Estar vivo é isto. É sinónimo de assistir, de mãos atadas, à mudança: de corpo, de convicções, de personalidade, de vida, da essência do que somos. Quanto a este último, não tenho tanta certeza disso, mas foi o que me fez chorar. Porque, ao ler a tua fita, tão cheia de mentira e de verdade, tão honesta na tentativa de salvaguardar realidades que já não existem, percebo que te toquei da forma como toco quase toda a gente de quem gosto ou que gosta de mim: com a brutalidade da minha honestidade e sinceridade. Mas também percebo que mudei. Já não tenho 17 anos, já não os tinha quando escreveste aquelas palavras, a vida foi tão madrasta comigo como é com todos os que não a temem e isso não passa incólume. Reconheço a pessoa que retratas, mas também reconheço que a inocência se foi, embora acredite que, queira eu ou não, a essência se mantenha. Porquê? Porque é que tinhas que morrer e deixar-me uma fita escrita a dizer que me oferecias a tua amizade mais verdadeira até ao fim, numa frase cheia de pontos de exclamação? Numa fita assinada a 16 de Maio de 2000? A sério, a 16 de Maio, esse dia que ganhou um significado brutal na minha vida um ano após a tua morte? Esse dia que me mudou, que me faz duvidar que a pessoa maravilhosa que viste em mim ainda exista? Já não sou uma menina, como poderia? Suponho que, se ainda cá estivesses, também não serias o rapaz que deu voz àquelas palavras. Mas, por que raio, não estás cá para poder discutir isto contigo? Seria tão mais divertido. Triste à mesma, mas com mais sentido.
Abandoná-lo. É o caminho mais rápido para a morte lenta da criatura. Lenta porque, felizmente, os leitores são persistentes e ainda vão continuar a acreditar no regresso do autor durante muito tempo.
Ser reservada. Deixar de contar pormenores sobre a vida pessoal e salvaguardar a intimidade do autor. Por muito que se aprecie o talento para a escrita, o que os leitores gostam mesmo é de cuscar a vida alheia. Sem isso, dá-se início ao desapego sentimental que irá culminar na morte do blog.
Ser ausente. Nunca responder aos comentários feitos no blog e optar por uma postura de "indiferença" em relação aos posts de outros bloggers. Não interagir na blogoesfera é meio caminho andado para aniquilar a presença entre os demais.
Perder estatuto. São os links de outros que geram parte do movimento de um blog. Se, por alguma razão, se perder uma ligação com um blog muito popular, o número de visitas cai drasticamente a curtíssimo prazo. Muitas das pessoas que geram movimento não sabem guardar links e fazem-no através das ligações que vêem noutros blogs. Se a ligação deixar de existir, nunca mais lá voltam.
Parar no tempo. Há muito que a blogoesfera 2.0 morreu. Hoje em dia, para que um blog seja popular é impreterível que haja uma ligação e coordenação muito forte com as redes sociais. Um blog não existe apenas no seu endereço, tem de estar também no Facebook, no Twitter, no Instagram, no Pinterest, no Vine e no Diabo a Quatro - quero ver quantos de vocês vão pesquisar esta rede social :). Sem isto, nada feito, mais vale escrever já o epitáfio. Não se sai vivo disto.
Nota-se muito que estou deprimida com os valores do Sitemeter? Será que isto ainda se usa?
É caso conhecido e amplamente discutido este dos casais que se afastam dos amigos solteiros mal encetam namoro. Deplorável, e apenas aceite nos primeiros tempos de uma nova relação. Toda gente sabe como é que isto funciona. O que desconhecia era a versão inversa. Amigos que se afastam de outros porque estes começam uma relação amorosa. E não, não o fazem com intenção de dar espaço ao novo casal para se curtir, mas sim para marcar uma posição de oposição à mudança de estatuto. Custa-me entender onde reside a amizade em casos como este. Talvez seja de mim, mas volto a dizer, a felicidade dos outros deve ser a felicidade de que lhes quer bem. Digo eu, que gosto de dizer coisas.