Este é um livro de transição, lamentavelmente traduzido na versão portuguesa, que não dispensa erros de gramática e concordâncias, mas que permite fazer as pazes com Carlos Ruiz Zafón. Não, não tem a qualidade nem a magia de "A Sombra do Vento", mas também não desilude como "O Jogo do Anjo". Quase como uma pausa para respirar, "O Prisioneiro do Céu" volta a dispor cartas em cima da mesa, oferece respostas e levanta novas dúvidas numa história que ainda não acabou. Por não ser a repetição cansativa de tantos romances de Záfon, é possível que um dia se leia o quarto e último volume da série. Aquele que ainda não foi editado.
Acho que isto pode ser uma das razões por que me identifico tanto com o que esta miúda escreve. É mesmo verdade, "não se esquecem as alcunhas dadas no sexto ano, misturadas com gargalhadas e apontar de dedos. E ver que todos esses otários se transformaram em adultos medíocres e feios não é vingança suficiente".
Vestido com um casaco que ainda cheirava a novo, o rapaz que hoje me levou para o trabalho - acordei tarde! - não sabe onde é a Conde Redondo. Sim, estamos a falar na rua do Elefante Branco, essa que, anedota sim, anedota não, é referida jocosamente em conversas menos próprias. Essa, que fica no centro de Lisboa. O rapaz não sabia porque está a trabalhar como taxista mas é licenciado em Gestão e isto não é a vida dele. Trabalhou durante seis anos no IEFP, que, para quem não sabe, é o organismo público público que gere subsídios de desemprego e afins. Até que o objecto de trabalho lhe rebentou nas mãos. De braços dados com o desemprego, o rapaz que me trouxe ao trabalho está desanimado e agastado com as chapadas que a vida lhe tem dado. Derrotado porque não tem amigos nem conhecimentos suficientes para evitar usar o casaco, quase novo, num táxi onde recebe apenas 35% do que aufere. Trabalha apenas nos turnos diários, pela-se de medo dos clientes que lhe entram no táxi e não sabe onde é uma das ruas mais centrais da cidade, nem faz ideia de como lá chegar. Isto não é a vida dele e nem sequer faz um esforço para ver o lado positivo desta experiência. Mas lá admite que já se cruzou com um cliente que tem negócios em Moçambique e que lhe pediu o curriculum. E até respondeu de volta, realça, enquanto me devolve o troco e remata certo de que um dia ainda o vou entrevistar: "É que eu sou filiado num partido político", diz, do alto do casaco novo. "Sou do CDS", são as últimas palavras que oiço ao rapaz que me trouxe ao trabalho e que não sabe onde fica a Conde Redondo.
Sabes que um livro é bom, por muito que seja best seller, quando dás por ti com saudades das personagens. Sinto falta do John Snow, da Arya Stark e do Thyrion Lannister, entre tantos outros. E já só me resta um volume para ler.