Se o meu carro tivesse sido dado, não tinha que me estar a roer por não ir ao Vodafone Mexefest, ao concerto de Samshing Pumpkins e de certeza que já tinha bilhete assegurado para ver Radiohead. É assim a vidinha...
Como se os tempos de escola se tivessem eternizado nesse grande pátio que é a Internet. Combinam-se festas exclusivas, marcam-se fotos animadas, promovem-se amizades plásticas e inventam-se vidas cheias e completas. Mas esquecem-se que tudo isto é público e, ao mesmo tempo, simula-se falta de tempo para quem não interessa, desmarcam-se saídas que não se quer fazer e afasta-se o patinho feio da turma com duas ou três desculpas esfarrapadas. Com a diferença de que, aqui, está tudo à mostra. Não deixa de ser bullying, é apenas mais flagrante.
Acabei de enganar um menino que veio fazer um peditório à minha porta. Espantado com a minha juventude, o rapaz deu-me 22 anos. Disse que estava quase lá, que tenho 23. Ele acreditou.
O alfabeto só tinha 23 letras, as palavras usavam consoantes mudas, vivia-se no século XX e olhava-se com respeito para o longínquo ano 2000. Nas carteiras contavam-se escudos e centavos, lembram-se das moedas de 50 centavos? Ah, e celebrava-se a Restauração da República, a 1 de Dezembro. Era feriado nesse dia.