Se dantes
não deixava livros a meio por uma questão de honra, agora dou por mim a fazê-lo sem dó nem piedade. Escasseia-me o tempo para fretes, a bem dizer. Tudo começou há uns meses com "Viagens Contadas", da jornalista Maria João Ruela. Estava a lê-lo por motivos profissionais e, ao mesmo tempo, a obrigar-me a não reparar na óbvia dificuldade que uma pivot tem em usar as palavras num registo literário. Não que escreva mal, que não é o caso, trata-se antes da constatação natural de que, quem nunca escreveu para ser lido, dificilmente o fará bem à primeira tentativa. Enfim, como se tratava de uma questão de trabalho, bastou-me por o livro de lado, sem me martirizar por aí além. Embora o bichinho da vergonha da desistência tivesse ficado a moer-me o juízo, admito. Adiante, que a história tem mais que se lhe diga. Curiosamente, também com uma jornalista portuguesa. Desta vez foi a Alexandra Lucas Coelho que me obrigou a largar o tão aclamado "Caderno Afegão" em parte incerta. Minto, sei perfeitamente onde está - na minha mesa de cabeceira - mas faço por ignorá-lo. Os fãs que me perdoem e a Alexandra Lucas Coelho também mas, para mim, aquilo não é escrever. Corrijo, para mim, aquilo não é contar uma história. Não que o tema não seja interessante, que é, ou que não tivesse curiosidade em saber até onde aquelas reportagens - era isso que estavas lá a fazer, não era? - iriam levar, mas cansei-me. O registo telegráfico não me convence mas, lá está, percebo quem goste. Não me incluo no grupo e, por isso, fechei o "Caderno" a meio. Um que ficou pelas primeiras dez páginas, e o último destes meses, é ainda mais surpreendente. Desta vez foi a "Bica Escaldada", de Alice Vieira, que me caiu mal. Nada contra a escritora, que escreve como ninguém, embora eu ainda tenha muito que explorar da sua obra. O amargo de boca veio-me do facto de este livro ser uma compilação de crónicas da vida quotidiana, que foram publicadas em dois jornais e duas revistas da nossa imprensa. Descobri que não consigo compactuar com esta coisa de se pagar a peso de ouro a alguns jornalistas para escreverem mil caracteres de banalidades. Sei que, neste saco, estou a meter um ou outro merecedores desta distinção e, provavelmente, Alice Vieira será uma dessas honrosas excepções mas, que querem? Não consigo alinhar nisto. Curiosamente, descubro que existe um padrão nos três livros que não cheguei a terminar.