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Há dois dias terminei de ter o
"As Velas Ardem até ao Fim", de Sandór Marai. Não o conhecia, chamou-me à atenção na livraria e foi com gosto que me deixei levar pelas quase 200 páginas deste escritor húngaro. Fechei o livro, cheia de dúvidas e pensei: "Bolas, ainda não tenho maturidade para entender isto". Entendi, mal e com dificuldade. Mas a ideia tem vindo a ganhar forma na minha cabeça. E, curiosamente, joga com o que 2009 representa para mim: o ano da amizade. Sim, é assim que lhe vou chamar. A amizade foi
protagonista deste final de década para mim. E, se no livro de
Sandór Marai, dois homens aguentam 41 anos para consertar um momento acabando, no fundo, por nunca o fazerem - exactamente porque a amizade é mais importante que tudo o resto, mesmo que esse resto seja uma traição de morte, de lealdade -, neste ano que agora termina também eu percebi com que linhas se cose essa relação entre dois seres humanos. Há fronteiras, limites. É triste? Talvez seja, talvez não. Mas tudo se resume ao respeito que temos por quem gostamos, em quem nos revemos e a quem nos torna os dias mais risonhos. Há atitudes e palavras que, uma vez tomadas ou ditas podem mudar o que sentimos. Para sempre. Porque o tempo pode passar, ajudar a sarar e até apagar algumas acções. E é aqui que entram as fronteiras. Tudo depende do quão longe se foi. E há limites que não se passam, não se podem passar. Talvez por isso estes dois homens do livro húngaro tenham optado por queimar o livro que lhes podia tirar todas as dúvidas. Porque há valores que falam mais alto e é preciso saber avaliá-los, a cada momento. Para mim, 2009 foi um ano destes.
Clarividente.