Cada vez tenho menos paciência para as relações humanas. Para os jogos que, sem excepção, adoptamos no dia-a-dia. Com a família, nas compras, no trabalho, com os amigos, com a cara-metade. Que levante o braço quem nunca se sentiu
injustiçado. Quem, qual vítima de um jogo que não pode controlar, nunca achou que o Mundo estava contra si. E quem, com a sensação de que estava a ser alvo de facadas nas costas, já teve a certeza de ser uma vítima da sociedade. Todos passamos por isto. Mas alguns crescem. Outros - mais do que seriam desejável - continuam a acreditar que são um poço de bondade e que, quando alguma coisa corre mal, é o Mundo que gira contra eles. Nunca erram, nunca admitem que também eles podem ter magoado quem estava ao seu lado. E, já diziam os filósofos mais antigos, é essa a maior grandeza do Homem. Ter a humildade de admitir a sua própria pequenez. Ser a vítima é o caminho mais fácil, à partida, mas também o que mais entraves traz às relações pessoais. Porque a vítima acha-se acima do outro. Não erra, é magoada e alvo de uma grande injustiça. A maior parte das vezes não percebe que essa atitude, essa sim, é a maior de todas as injustiças cometidas. Façam um favor ao Mundo: cresçam! Se a vossa amiga não ligou, não façam birra. Agarrem no telefone e liguem de volta. Se o vosso namorado não vos contou que se cruzou com uma amiga, não o massacrem. Falem sobre o que vos incomoda. Dialoguem. Porque nem sempre somos donos da razão. Por incrível que pareça!