Transfigurados pela dor
vanita
Há qualquer coisa de indescritível nos rostos dos familiares das vítimas da queda do avião nos Alpes. Não sabemos explicar, mas aquelas expressões, as rugas e os trejeitos, os movimentos e a postura dos corpos, aproximam-nos de forma dolorosa do horror que se apodera de quem descobre que algo mudou para sempre. Inevitavelmente. As chegadas dos aeroportos são espaços de felicidade e reencontro. Nunca estamos preparados para receber a pior das notícias enquanto aguardamos os nossos entes queridos. A passagem de uma emoção à outra fica marcada como ferro em brasa. E arrepia-nos, até a nós, que nada temos em comum com aquelas pessoas em particular. Revemo-nos na dor e reconhecemo-nos naqueles rostos. Não consigo imaginar a transfiguração que se dá quando se divulgam notícias como as que dão conta de que a queda do avião se deve ao facto de alegadamente o co-piloto se ter trancado no cockpit e de ter accionado o botão de descida a pique.