Sinais dos tempos
vanita
Quando era miúda surpreendia-me por os meus pais terem crescido num mundo em que não havia televisão, apesar de ainda só existir um canal - a RTP2 emitia umas horas a espaços - e haver ainda muitos aparelhos a preto e branco nas casas de muitas famílias. Era-me inconcebível imaginar uma vida sem electricidade e, menos ainda, sem televisão. Como faziam à noite? As respostas de que se conversava à luz do candeeiro a petróleo e de que se ia dormir mais cedo, depois de se bordar uns tecidos ou tricotar umas camisolas, aterrorizavam-me. Tenho medo do escuro, que querem. Se tivessem vivido essa infância, morria de susto antes de chegar a adulta.
Tudo mudou. Diz que agora, os bons velhos tempos - os tempos dos velhos, na linguagem das crianças - são aqueles em que ainda não existia Internet. E sim, meus meninos, eu cresci nessa realidade. Nem sequer computador tive durante os meus verdes anos, arrepiem-se. Tablets e telemóveis eram ideias futuristas dos filmes de ficção científica. No meu tempo - ah, chegou a minha vez de usar esta expressão - havia um telefone fixo, que só chegou lá a casa quando eu já tinha 8 ou 9 anos. A televisão teve dois canais até quase aos meus 14 anos e era igual para toda a gente. Não havia TV por cabo nem hipótese de andar para trás, para começar o programa do princípio. Aliás, devia ter uns 10 anos quando comprámos um vídeo VHS, essa grande revolução dos anos 80, que antecedeu a chegada dos DVD's e CD's e todas essas modernices que também já andam com os pés para a cova. Internet, nem sequer havia concepção da ideia. Víamos todos os mesmos programas ao mesmo tempo e, no dia seguinte, havia tema de conversa igual para todas as idades. Uma circunstância que marcou aqueles anos. Todos vimos o "Roque Santeiro", a "Rua Sésamo", o "Agora Escolha", o "MacGyver" e tantas outras opções que nos foram impostas.
Hoje o mundo é mais perto e imediato. Estamos todos à distância de um clique, nesta aldeia global que povoava os nossos sonhos na ascensão da Internet. Não se iludam, também para vocês, um dia destes, tudo isto será passado e estarão a relatar uma história semelhante a esta que agora vos conto. Se sentados em frente a um monitor ou através de outra qualquer tecnologia, não sei dizer, mas sei que está para breve. Segurem-se e aproveitem a viagem.